Sem amparo social, profissionais do sexo em Dourados se sentem invisíveis. Em Dourados 80% das trans que sobrevivem do sexo, não receberam nem mesmo o Auxílio Emergencial por não atenderem a critérios do programa, afirma Claudia Assumpção, coordenadora do Núcleo de Políticas Públicas para LGBT+ em Dourados. Muitas estão vivendo de doação de cestas básicas, quando conseguem. Algumas, sem clientes na pandemia, tiveram que aderir ao "black friday". Os descontos chegam a 50%, com custos por hora que vão de R$ 25 a R$ 100 dependendo do serviço prestado. A princípio a "promoção" pode até parecer cômica, se não fosse trágica.
Segundo Claudia Assumpção, essas profissionais são ignoradas. "Não se pensa em políticas públicas voltadas a inserção das mulheres trans no mercado de trabalho convencional. Elas são obrigadas a se prostituírem porque ninguém quer dar uma vaga de trabalho. E também não se pensa em políticas públicas capazes de amparar essas pessoas numa hora de fragilidade como essa da pandemia", destaca Claudia.
Segundo ela, a pandemia causou uma redução drástica no movimento e sem opção, muitas profissionais, que dependem do trabalho, não encontram saída a não ser insistir na função, mesmo com a recomendação de isolamento. "Muitas delas estão entre a cruz e a espada. Precisam decidir entre se contaminar com o coronavirus ou pagar as contas. A maioria delas está endividada nas casas onde residem ou nos pensionatos. A cada dia as dívidas aumentam mais e muitas chegam a ter que fugir por que não consegue pagar as diárias. Deixam tudo para trás, as vezes até documentos pessoais porque ficam apreendidos", relata.
Claudia alerta para aquelas que não conseguem viver de outra renda. "A minha maior preocupação é em relação as meninas que são dependentes químicas, pois elas não têm ideia do risco que estão correndo. Precisam manter o vício a qualquer custo", destaca, lamentando o fato de que a precarização é tão significativa que já houve casos de programas custarem até R$ 10. "Temos várias meninas que são dependentes químicos e isso é muito triste porque elas sofrem muito mais, já que são mais vulneráveis, sofrem mais violências e estão mais expostas e correndo muito mais riscos de infecção do coronavirus", lamenta.
A coordenadora disse que iniciou um trabalho de concientização para que elas se afastem das funções como recomenda a Organização Mundial de Saúde para evitar o contágio da doença. "Estamos tentando sensibilizar o máximo possível alertando sobre os riscos que elas estão correndo. No momento é necessário que elas se resguardem. Deixei à disposição qualquer dúvida e todas podem me procurar a qualquer momento que eu estou orientando ou até encaminhando nos órgãos de saúde", ressalta.
"Me sinto invisível"
Laryssa Hoffmann, de 31, anos diz que se sente invisível. Profissional do sexo em Dourados, ela mora em uma pensão que acolhe mulheres trans. Todos os dias precisa optar entre se arriscar com o coronavirus ou sobreviver. "É preciso entender que as profissionais do sexo ficaram sem renda e o auxílio emergencial, muitas vezes nem chegou. A ajuda com R$ 300 reais é valor muito aquém do que sobrevive uma pe
Sem amparo social, profissionais do sexo em Dourados se sentem invisíveis. Em Dourados 80% das trans que sobrevivem do sexo, não receberam nem mesmo o Auxílio Emergencial por não atenderem a critérios do programa, afirma Claudia Assumpção, coordenadora do Núcleo de Políticas Públicas para LGBT+ em Dourados. Muitas estão vivendo de doação de cestas básicas, quando conseguem. Algumas, sem clientes na pandemia, tiveram que aderir ao "black friday". Os descontos chegam a 50%, com custos por hora que vão de R$ 25 a R$ 100 dependendo do serviço prestado. A princípio a "promoção" pode até parecer cômica, se não fosse trágica.
Segundo Claudia Assumpção, essas profissionais são ignoradas. "Não se pensa em políticas públicas voltadas a inserção das mulheres trans no mercado de trabalho convencional. Elas são obrigadas a se prostituírem porque ninguém quer dar uma vaga de trabalho. E também não se pensa em políticas públicas capazes de amparar essas pessoas numa hora de fragilidade como essa da pandemia", destaca Claudia.
Segundo ela, a pandemia causou uma redução drástica no movimento e sem opção, muitas profissionais, que dependem do trabalho, não encontram saída a não ser insistir na função, mesmo com a recomendação de isolamento. "Muitas delas estão entre a cruz e a espada. Precisam decidir entre se contaminar com o coronavirus ou pagar as contas. A maioria delas está endividada nas casas onde residem ou nos pensionatos. A cada dia as dívidas aumentam mais e muitas chegam a ter que fugir por que não consegue pagar as diárias. Deixam tudo para trás, as vezes até documentos pessoais porque ficam apreendidos", relata.
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Claudia alerta para aquelas que não conseguem viver de outra renda. "A minha maior preocupação é em relação as meninas que são dependentes químicas, pois elas não têm ideia do risco que estão correndo. Precisam manter o vício a qualquer custo", destaca, lamentando o fato de que a precarização é tão significativa que já houve casos de programas custarem até R$ 10. "Temos várias meninas que são dependentes químicos e isso é muito triste porque elas sofrem muito mais, já que são mais vulneráveis, sofrem mais violências e estão mais expostas e correndo muito mais riscos de infecção do coronavirus", lamenta.
A coordenadora disse que iniciou um trabalho de concientização para que elas se afastem das funções como recomenda a Organização Mundial de Saúde para evitar o contágio da doença. "Estamos tentando sensibilizar o máximo possível alertando sobre os riscos que elas estão correndo. No momento é necessário que elas se resguardem. Deixei à disposição qualquer dúvida e todas podem me procurar a qualquer momento que eu estou orientando ou até encaminhando nos órgãos de saúde", ressalta.
"Me sinto invisível"
Laryssa Hoffmann, de 31, anos diz que se sente invisível. Profissional do sexo em Dourados, ela mora em uma pensão que acolhe mulheres trans. Todos os dias precisa optar entre se arriscar com o coronavirus ou sobreviver. "É preciso entender que as profissionais do sexo ficaram sem renda e o auxílio emergencial, muitas vezes nem chegou. A ajuda com R$ 300 reais é valor muito aquém do que sobrevive uma pessoa normal que tem contas de água, luz, telefone e aluguel. É preciso vencer a barreira do preconceito e dar outras oportunidades de trabalho para as mulheres trans", ressalta Larissa, que sonha ser assistente social.
Nessa pandemia, ela conta que teve que inovar. Uma das alternativas foi adotar o sexo virtual. O programa custa em média de R$ 100 a R$ 200 por hora dependendo do que o cliente pede. Ao O PROGRESSO, ela disse que no começo da pandemia, entrou em pânico pois não podia sair de casa, tendo em vista o toque de recolher, mas que aos poucos os clientes foram voltando, já que "alguns não estão assim tão preocupados", segundo ela.
País mais perigoso
O Brasil é considerado a nação mais perigosa do mundo para transgêneros. A expectativa de vida dessa comunidade é de 35 anos, menos da metade do resto da população, que chega aos 75,5 anos, de acordo com o IBGE. Só em 2019, o número de assassinatos em decorrência da transfobia (ódio ou aversão à identidade de gênero) já chegou a 123, sendo 65 vítimas travestis e 53 mulheres transexuais. "Somos poucas mulheres trans que chega nesta idade ou mais, eu me considero uma diva, pois já ultrapassei os 3.5 e estou com 55", disse.
Os números são especialmente cruéis para mulheres trans e travestis em Dourados: 90% está na prostituição, se tornando assim principais alvo da violência. Claudia foi por outro caminho. Há 20 anos deixou de se prostituir. Hoje é casada e coordenadora do Núcleo de Políticas Públicas para LGBT+ em Dourados. Também já foi presidente da Associação de Gays, Lésbicas e Transgêneros de Dourados. Está cursando Serviço Social, fez diversos cursos de qualificação e sonha com a gastronomia após terminar a graduação.
Segundo Cláudia, a sua missão hoje é fazer com que as mulheres trans possam ter o direito de escolha a outra profissão que não seja a de se prostituir. Para isso vem sensibilizando o comércio para abrir vagas de trabalho além de buscar a qualificação para o mercado de trabalho para quem escolhe fazer como ela.
Avanços
Segundo ela apesar das dificuldades, há avanços que merecem atenção. "Hoje é muito mais fácil do que antes para se trocar o nome, e para buscar respeito. Hoje há leis. Temos que fazer com que sejam cumpridas", destaca, observando, por exemplo, que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou no ano passado que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passasse a ser considerada um crime. "O Núcleo de Políticas Públicas tem feito um trabalho constante para levar essas informações e tem buscado melhorias em todas as áreas para que as mulheres trans vençam o preconceito um dia. Se eu venci, todo mundo pode vencer", finaliza.
ssoa normal que tem contas de água, luz, telefone e aluguel. É preciso vencer a barreira do preconceito e dar outras oportunidades de trabalho para as mulheres trans", ressalta Larissa, que sonha ser assistente social.
Nessa pandemia, ela conta que teve que inovar. Uma das alternativas foi adotar o sexo virtual. O programa custa em média de R$ 100 a R$ 200 por hora dependendo do que o cliente pede. Ao O PROGRESSO, ela disse que no começo da pandemia, entrou em pânico pois não podia sair de casa, tendo em vista o toque de recolher, mas que aos poucos os clientes foram voltando, já que "alguns não estão assim tão preocupados", segundo ela.
País mais perigoso
O Brasil é considerado a nação mais perigosa do mundo para transgêneros. A expectativa de vida dessa comunidade é de 35 anos, menos da metade do resto da população, que chega aos 75,5 anos, de acordo com o IBGE. Só em 2019, o número de assassinatos em decorrência da transfobia (ódio ou aversão à identidade de gênero) já chegou a 123, sendo 65 vítimas travestis e 53 mulheres transexuais. "Somos poucas mulheres trans que chega nesta idade ou mais, eu me considero uma diva, pois já ultrapassei os 3.5 e estou com 55", disse.
Os números são especialmente cruéis para mulheres trans e travestis em Dourados: 90% está na prostituição, se tornando assim principais alvo da violência. Claudia foi por outro caminho. Há 20 anos deixou de se prostituir. Hoje é casada e coordenadora do Núcleo de Políticas Públicas para LGBT+ em Dourados. Também já foi presidente da Associação de Gays, Lésbicas e Transgêneros de Dourados. Está cursando Serviço Social, fez diversos cursos de qualificação e sonha com a gastronomia após terminar a graduação.
Segundo Cláudia, a sua missão hoje é fazer com que as mulheres trans possam ter o direito de escolha a outra profissão que não seja a de se prostituir. Para isso vem sensibilizando o comércio para abrir vagas de trabalho além de buscar a qualificação para o mercado de trabalho para quem escolhe fazer como ela.
Avanços
Segundo ela apesar das dificuldades, há avanços que merecem atenção. "Hoje é muito mais fácil do que antes para se trocar o nome, e para buscar respeito. Hoje há leis. Temos que fazer com que sejam cumpridas", destaca, observando, por exemplo, que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou no ano passado que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passasse a ser considerada um crime. "O Núcleo de Políticas Públicas tem feito um trabalho constante para levar essas informações e tem buscado melhorias em todas as áreas para que as mulheres trans vençam o preconceito um dia. Se eu venci, todo mundo pode vencer", finaliza.
Por: Valéria Araújo/Progresso
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