"A Política e seus Laços Umbilicais"
Autenir Rodrigues de Lima *
A política brasileira tem encontrado enormes dificuldades para se renovar. Essa renovação, que se daria essencialmente pelo surgimento de caras novas, com novas ideias, novos ideais, pessoas com uma mentalidade moderna, capaz de inovar na forma de fazer e de agir, pouco tem surgido. Ao mesmo tempo em que, percebe-se a existência de barreiras ainda quase intransponíveis, fazendo predominar o jeito arcaico de fazer campanhas e principalmente de administrar recursos públicos. Isso, ao longo do tempo, criou um certo vicio eleitoral, entranhado no comportamento de ambas as partes, tanto dos candidatos, quanto dos eleitores.
A política, nos moldes como é feito hoje, torna improvável que haja num curto e médio prazo, uma renovação satisfatória que mude os rumos da política tanto local, quanto nacional. Excesso de poder econômico e apadrinhamento político, acabam ditando as regras e massacrando os demais candidatos, que diante de tanto poder de fogo, tornam-se invisíveis e obviamente, sucumbem ante a promiscuidade do toma lá dá cá, muito frequente nesta época. Não importam quais sejam as qualificações do candidato, sua conduta moral, suas propostas de trabalho. Não serve, se não tiver "cacife"!
É incrível, como certas coisas perduram há tanto tempo e se fazem tão presentes nos dias de hoje. Não é um costume apenas local ou regional. Basta analisar alguns nomes do cenário político e percebemos nomes e sobrenomes conhecidos que desfilam graus de parentescos de primeiro, segundo, terceiro graus, e por aí vamos! É marido, mulher, filhos, cunhados, netos, etc. todos pendurados num verdadeiro negócio de tradição familiar! Ou seja, representação política no Brasil, é composto por verdadeiras linhagens oligárquicas que se revezam no poder e se renovam entre sí. E nada muda!
Dados do site: Congresso em Foco, de 2011, mostrava que um em cada dois deputados tinham laços de parentesco com outras figuras políticas, ou seja, quase 300 de um total de 564 deputados. No Senado Federal não era diferente. Dos 85 parlamentares que exerceram o mandato, entre titulares e suplentes, 57 são filhos, netos, pais, irmãos, sobrinhos, tios, primos, cônjuges ou ex-cônjuges de políticos, ou seja, em média dois em cada três.
Manter a tradição familiar na política, é um direito democrático que precisa ser respeitado. No entanto, observo que essa política de laços umbilicais, não tem trazido uma renovação satisfatória e desejada. Pelo contrário, acredito que essa ligação traz necessariamente o DNA patriarcal antiquado, de comportamentos e práticas danosas que contaminam e prejudicam o País e a imagem da classe política como um todo.
Não se pode também, abster o eleitor de total responsabilidade! Se o eleitor não fosse tão imaturo, e escolhesse por convicção, e menos por influencia alheia, por aparências, ou outros meios nada éticos, já teríamos mudanças mais significativas. Uma boa parte dos eleitores tem por pratica desprezar o "novo", principalmente se este, não tiver um exercito trabalhando em se favor. Mas qual o novo pode ter esse privilégio? Senão os abastados tradicionais? Será que sairemos desse beco?
* Funcionário Público -- Prefeitura de Jateí-MS
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