O fim da vida foi como morador de rua, morto eletrocutado. Mas Julian Estácio de Souza, de 33 anos, tinha casa e três filhos. As drogas, desde os 13 anos, trouxeram as prisões, as internações, mudaram tudo e só devolveram o corpo em um caixão. A dor é enorme e Marinez Estácio Teixeira, diz que, mesmo antes da identificação do corpo, já sabia que o filho estava morto.
“Ele morou comigo até o falecimento do meu segundo marido, que ele chamava de pai. Aos 13 anos ele foi morar com o pai dele. A mãe sente e sabe de tudo, logo em seguida eu já vi que tinha algo de errado, ele já não queria frequentar minha casa. Ele entrou no mundo das drogas cheirando cola”, conta a mãe.
O pai de Julian, o mecânico Valdecir Nunes, conta que o acidente de trabalho trouxe a família de volta a Campo Grande. Por ironia, o mesmo tipo de acidente que matou o filho. “Eu morava no andar de cima da loja e sofri uma descarga elétrica que me jogou e eu atravessei o telhado. Eu fiquei em coma cinco dias, porque tive uma ruptura craniana interna. Assim que sai do coma e eu me recuperei, nós voltamos para Campo Grande. Julian era um bebê ainda”, relembra.
Valdecir não via o filho havia três meses e na manhã de ontem cortava um pão, quando recebeu a ligação de Marinez.
“Esse vício maldito levou meu filho. Eu não o via há meses a última vez encontrei ele no trevo do Imbirussu. Ainda perguntei o que ele estava fazendo, o aconselhei a largar o vício, mas não adiantou. A informação que eu tinha era que ele estava frequentando uma clínica. Hoje de manhã eu nem consegui tomar o café. Fui uma noite estranha também, eu não consegui dormir. Minha filha caçula chegou a sonhar com morte. Eu sempre falo para os jovens que droga não leva a nada, só leva a vida das pessoas mesmo”, garante.
Destruída pela perda e se culpando por não ter conseguido tirar o filho da dependência, Marinez questiona até o fato de muitos pais rejeitarem os filhos gays e, em meio a dor, fortalece outros pais que enfrentam o mesmo problema com as drogas.
Julian abandonou os filhos e a esposa e as tentativas de resgate envolviam toda a família. Os irmãos sempre o encontravam nos semáforos e num ponto frequentado por usuários de droga próximo à UPA do Universitário.
“Um dia, fui à Santa Casa reconhecer e cheguei a passar três vezes na frente do quarto, porque ele estava irreconhecível. Já cheguei a tirar ele de um telhado depois de um tiro no joelho. Eu sempre pedia para ele tomar cuidado, mas eu não esperava que a droga fosse fazer isso com ele. Ele não tinha maldade, o que levou ele foi a droga. Infelizmente, a gente não conseguiu vencer as drogas”, conta o irmão Júlio Aparecido Estácio Teixeira.
Marinez conta que o filho passou o último mês internado, mas a abstinência da droga o fez fugir novamente. “Há oito dias ele veio me ver e parece que foi uma despedida. Ele disse que me amava e foi embora. Antes dele sair ele me disse que voltaria para a clínica e eu acreditei. Eu vi meu filho indo com um casaco azul, meia e chinelo. Eu ainda disse para ele enfiar as meias no bolso do casaco, mas ele disse que não precisava", conta.
Segundo ela, ele estava dormindo nas ruas há 15 dias e a reportagem da morte de um desconhecido na manhã terça-feira foi só uma confirmação da despedida.
Julian deixou os pais, três filhos e cinco irmãos. O velório ocorre na casa da mãe, no Bairro Los Angeles.
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