Antes de fazer o anúncio público em seu reduto eleitoral, no condado Sedgefield, previsto para as 11h45 (07h45 em Brasília), o premiê conversou com os integrantes do seu gabinete pela manhã desta quinta-feira, 10.
Um dos ministros presentes, Peter Hain, disse que a reunião foi "curta e amigável, com muitas risadas".
Blair deve ficar no cargo por mais seis ou sete semanas enquanto o Partido Trabalhista elege o novo líder da legenda.
O ministro da Economia, Gordon Brown, é o grande favorito para substituí-lo. Segundo uma fonte do governo, durante a reunião com o gabinete, nesta manhã, Brown prestou uma homenagem a Blair.
"Gordon Brown fez um tributo curto mas muito comovente à liderança de Tony Blair, não apenas no Partido Trabalhista e na Grã-Bretanha, mas também no mundo", contou a fonte à BBC.
Tony Blair foi um dos primeiros-ministros britânicos mais populares no país. Entre 1994 e 2002, o premiê gozava de uma popularidade nunca antes registrada por seus antecessores. Popularidade que começou a ruir, contudo, após a guerra no Iraque - conflito que estará sempre associado ao seu nome. Blair foi eleito líder do Partido Trabalhista em 21 de julho de 1994 e, desde 1º de maio de 1997, ocupa o cargo de primeiro-ministro da Grã-Bretanha - o trabalhista a ficar mais tempo no poder.
Jovem, educado (formado em Direito pela Universidade de Oxford, onde tinha uma banda de rock), entusiasmado e conhecido pela excelente oratória, Blair ajudou a renovar o partido.
Arquiteto da chamada Terceira Via, sua missão de tornar o Partido Trabalhista mais elegível foi um sucesso: foram três mandatos consecutivos com duas vitórias avassaladoras em 1997 e 2001 e uma maioria saudável em 2005.
Mas três projetos políticos que defendeu ao longo dos três mandatos não foram finalizados: a reconfiguração da centro-esquerda britânica, a entrada da Grã-Bretanha na Zona do Euro e o estabelecimento do processo de representação proporcional, em que o número de cadeiras no Parlamento dado a um partido político reflete o número de votos em todo o país.
Sob seu governo, a economia do país cresceu constantemente, registrando baixos níveis de inflação, taxas de juros e desemprego - legado, no entanto, do seu ministro da Economia, Gordon Brown, que sempre fez questão de manter sua independência na pasta.
Robert Peston, biógrafo de Brown, conta que o orçamento da União só era enviado ao gabinete de Blair horas antes de ser divulgado no Parlamento.
Em relação aos serviços públicos na Grã-Bretanha, embora tenha ocorrido um certo progresso em alguns setores, Blair deixa um legado de frustração, em especial na área de saúde.
O premiê deixará para trás serviços públicos com altos níveis de investimento para padrões internacionais, mas sem um alto nível de serviço. Um problema para o seu sucessor.
Seu esforço para a conclusão do processo de paz na Irlanda do Norte, firmado no Acordo de Sexta-Feira Santa, de 1998, deverá ser lembrado como uma de suas conquistas.
Ao contrário da maioria de seus antecessores, Blair se expôs amplamente - talvez seguro pela habilidade de discursar em público, seja de improviso.
Foram inúmeros debates, às vezes cercado por adolescentes, coletivas de imprensa mensais, participações em diversos programas de televisão e rádio, noticiosos ou até mesmo comédias, além de horas de perguntas e respostas no Parlamento.
Durante os dez anos em que esteve no poder, Blair envolveu as forças britânicas em cinco conflitos: Iraque (1998), Kosovo (1999, foi recebido como herói ao visitar um campo de refugiados), Serra Leoa (1999), Afeganistão (2001) e Iraque (2003).
O último conflito, envolvendo 46 mil soldados britânicos, foi o mais contestado. Em discurso no Parlamento, justificando a invasão, o primeiro-ministro disse que o Iraque poderia usar armas de destruição em massa em 45 minutos. Informação de inteligência que acabou não sendo comprovada, levando a um inquérito.
Durante a investigação, Blair afirmou que a principal alegação contra ele - de que teria se envolvido em uma manobra para persuadir membros dos serviços de inteligência a exagerar o conteúdo do dossiê sobre armas do Iraque - era "completamente absurda".
Embora a morte de 130 soldados britânicos e o custo de 6,5 bilhões de libras (dados de janeiro de 2007) possam ser considerados modestos por historiadores no futuro, o impacto na política britânica foi significativo.
A rebelião de 139 parlamentares trabalhistas, em 18 de março de 2003, contra o conflito foi histórica.
A aliança com o presidente americano George W. Bush certamente abalou a popularidade de Blair e do Partido Trabalhista.
Na sociedade britânica, jovens muçulmanos demonstraram-se cada vez mais desiludidos e há um receio de uma certa fragmentação e um descrédito na classe política em geral.
Estadão
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