O Fantástico revelou neste domingo como funcionava a contabilidade do megatraficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, preso em São Paulo. Levando vida de rei, ele controlava, do Brasil, todas as operações de um dos maiores cartéis de drogas do mundo. urante os três anos de esconderijo no Brasil, Ramirez abadia arrecadou US$ 70 milhões por mês, faturamento maior que o de muitas empresas.
Na folha de pagamento de abadia, havia juízes, homens do exército e policiais, segundo reportagem de César Tralli. Juan Carlos Abadía está preso na Penitenciária Federal de Campo Grande, onde também está um dos maiores traficantes do Brasil, Fernandinho Beira-Mar, que foi preso na Colômbia.
Encomenda de assassinatos, ampliação das rotas do tráfico, gastos milionários com propinas. Computadores de Juan Carlos Ramirez Abadia apreendidos na Colômbia revelam: um dos traficantes mais procurados do mundo não veio ao Brasil apenas para se esconder.
Do Brasil, ele tinha total controle sobre as atividades do cartel de cocaína do Vale do Norte.
Documentos obtidos com exclusividade mostram que, de São Paulo, Ramirez Abadia administrava nos mínimos detalhes os negócios ilegais na Colômbia: do estoque da droga à liberação de dinheiro para subornar dezenas de autoridades.
Ainda de acordo com as investigações, toda semana homens de confiança do cartel viajavam a São Paulo prestar contas ao traficante. Muitas reuniões aconteciam em suítes de hotéis cinco estrelas. O resultado das conversas ficava registrado em computador.
Nos arquivos, dados estarrecedores. Durante os três anos de esconderijo no Brasil, Ramirez abadia arrecadou US$ 70 milhões por mês, faturamento maior que o de muitas empresas.
De uma única rota, em um único mês, o traficante embolsou quase US$ 38 milhões com o transporte de cocaína. Do Brasil, Abadia controlou a venda de 122 mil quilos da droga.
“Acho que tudo isso tem que ser provado, mas o que mostra é que de fato existia um controle, que a operação continuava funcionando normalmente”, aponta Sérgio Alambert, advogado de Ramirez Abadia.
Provas já existem. Depois da análise dos computadores, foram apreendidos US$ 90 milhões na Colômbia. E a Justiça colombiana confiscou 322 propriedades de Abadia.
As investigações agora se concentram em uma relação de assassinatos. As planilhas listam muitas mortes sob encomenda, com indicação do valor pago aos assassinos.
Mapas de navegação também estavam no computador. Eles mostram os caminhos do tráfico da Colômbia para países vizinhos e os Estados Unidos. E o registro de posições de fragatas americanas, para que barcos cheios de cocaína passassem longe da fiscalização.
Segredos comprados pela corrupção: US$70 mil para deslocar uma patrulha de uma das rotas marítimas da cocaína; US$10 mil para interromper um processo judicial. Outros US$10 mil para um investigador de polícia.
As investigações mostram que Ramirez Abadia também comprou muita gente no Brasil para não ser incomodado. Em depoimento a promotores no prédio da Justiça Federal, em São Paulo, o traficante contou que ele e seus principais colaboradores sofreram cinco extorsões, no ano passado, de policiais civis. Em anotações, feitas pelo próprio traficante, estão valores, apelidos e nomes de alguns dos acusados de cobrança de propina.
Barco. Delegado da fazendária - R$ 400 mil à vista.
A corrupção se refere ao iate do traficante, avaliado em quase R$ 2 milhões. O barco foi registrado em nome de Daniel Maróstica, testa-de-ferro de Abadia, que também está preso. Daniel não tinha como justificar a compra. Ramirez Abadia afirma que resolveu o problema dando dinheiro a policiais.
“Eles fizeram um calculo de qual seria a multa se isso viesse à tona, chegaram a um valor de R$ 400 mil. E aí ele pagou o valor correspondente, que seria, entre aspas, a multa”, fala Sergio Alambert.
Denarc, Alemão, outros. Um depoimento de Daniel Marostica dá os detalhes da extorsão. Daniel conta que em maio do ano passado testemunhou o seqüestro do comparsa Henry Edval Lagos, o Patcho, que está foragido.
Três homens armados que se identificaram como policiais levaram Patcho de uma pista de kart, perto de São Paulo. Um deles era um certo Alemão.
Ainda na versão de Daniel, pouco depois, os supostos policiais telefonaram exigindo US$ 280 mil de resgate. O dinheiro deveria ser entregue no Denarc - o Departamento de Combate às Drogas da Policia de São Paulo.
Com medo de ir ate lá, Daniel deixou os dólares dentro de um carro no estacionamento de uma farmácia perto do Denarc.
Patcho foi libertado em um posto de estrada. Contou para Daniel que apanhou muito dos policiais.
Ramirez Abadia escreve: Denarc, gordão de bigode. Ele se refere ao delegado Pedro Pórrio. Em depoimento, Daniel Marostica diz suspeitar que esse delegado, na época no Denarc, comandou o seqüestro de Patcho.
Segundo o comparsa de Abadia, o delegado Pórrio também apareceu no dia em que Ana Maria Stein, mulher de Daniel, foi levada ao Denarc para averiguação. Um grupo de policias pressionou para ficar com o carro de Daniel e Ana. Mas a documentação estava com problemas.
Daniel contou que, alguns dias depois, foi procurado pelo policial do Detran, Severino Amâncio da Silva, para regularizar a situação do veiculo, que foi vendido para saldar a dívida da extorsão.
Daniel deu a Severino R$50 mil em cheques de terceiros. Uma moto como, ainda segundo o sócio de Abadia, foi usada para pagar outra extorsão para outros policias.
E Patcho foi vítima de mais um seqüestro, revelou Ramirez Abadia. O traficante disse que negociou a libertação do parceiro de crime.
Advogado do Abadia: Ele foi pagar pessoalmente, valor de US$800 mil.
Fantástico: E entregou nas mãos de quem?
Advogado do Abadia: Entregou na mão de pessoas que ele não conhece, que pra ele, se intitulavam como policiais. Ele disse inclusive que em um dos momentos chegaram a oferecer pra ele a possibilidade que ele pagasse em mercadoria.
Fantástico: Em mercadoria, quer dizer, em cocaína?
Advogado do Abadia: Em cocaína.
O delegado Pedro Porrio negou as acusações. Ele, outros dois delegados e mais cinco investigadores, num total de oito policiais civis, foram afastados por ordem do secretário de segurança pública.
“O estado jamais pode se igualar ao marginal. Nem o estado nem seus agentes. Portanto caso essas denúncias sejam comprovadas, sem dúvida nenhuma, quem assim a praticou será tratado como criminoso”, afirma Ronaldo Marzagão, da Secretaria de Segurança Pública.
Depois da suspeita de cinco casos de extorsão, depois que a policia paulista desperdiçou cinco oportunidades de prender Ramirez Abadia, onde estava ele? Passeando num shopping de Curitiba, como revela uma gravação do circuito interno de TV.
As imagens de outubro do ano passado mostram o traficante disfarçado, com óculos e bigode.
Pouco depois, Abadia encontra comparsas: Patcho, Vitor Verano, o piloto de avião André Barcellos e Aline Nunes.
Com exceção de Patcho, que está foragido, todos foram presos em agosto deste ano pela equipe do delegado federal Fernando Francischini.
Eles caminham de um lado para o outro com sacolas e depois sentam, sem nenhuma pressa, para conversar e tomar um lanche.
Desde a primeira suspeita de extorsão em São Paulo até a prisão do megatraficante, um ano e três meses se passaram.
Nesse período, Ramirez Abadia levou vida de rei no Brasil. Enriqueceu ainda mais com o trafico e lá na Colômbia acabou com muitas famílias.
Os computadores dele mostram que em apenas um ano o traficante mandou matar mais de 100 pessoas.
“Não existe em nenhum lugar do mundo, crime organizado sem a participação do estado. O que impressiona é a corrupção policial, é o envolvimento de agentes do estado em receber propina de perigosos traficantes, que há muito já poderiam ter sido presos, continuar em liberdade”, aponta Rodrigo Pinho, procurador-geral de Justiça, de São Paulo.
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