Desde o início do processo de nacionalização do setor de petróleo e gás no país vizinho, já houve outras ameaças de corte no fornecimento devido a protestos localizados, além de reviravoltas nas negociações com as petroleiras motivados por disputas políticas internas.
Há três anos vivendo em Santa Cruz de la Sierra, um executivo de multinacional com operações no país vizinho aposta que o Brasil ainda terá outros sustos em suas relações com a Bolívia. "O país é muito instável e nunca se sabe até onde as pessoas estão dispostas a ir", diz ele, referindo-se à invasão por manifestantes de uma base de escoamento de óleo no sul do país, provocando a redução nas exportações de gás.
Ele lembra que é comum que manifestantes ameaçem com medidas mais radicais para que sejam atendidos pelo governo. "Quando você é dependente de um país em crise política, está sujeito a problemas o tempo todo", afirma o analista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).
No mês passado, os parlamentares de oposição suspenderam o processo de aprovação dos novos contratos de concessão, causando prejuízos à Petrobras, que tem que pagar, junto com suas parceiras nos campos de San Alberto e San Antonio, US$ 30 milhões em impostos por mês enquanto o novo modelo não entrar em operação. Depois disso, a conta cai para US$ 4 milhões.
No fim do ano passado, a Petrobras teve que parar a operação no campo petrolífero de Caranda, em Santa Cruz de la Sierra, após a invasão de cerca de 200 manifestantes. Antes, em meados do ano, as exportações de gás boliviano para o Brasil também foram interrompidas, mas por causa das chuvas que danificaram dutos no sul do País. Na ocasião, o governo começou a desenhar o plano de contingenciamento do mercado de gás natural, que pode ser aplicado agora.
Instabilidade – Para o analista Marco Aurélio Tavares, da Gás Energy, não há outra saída no curto prazo para o Brasil senão conviver com a instabilidade da Bolívia. "Isso só vai mudar a partir do momento que o Brasil viabilizar a importação do Gás Natural Liquefeito (GNL) e aumentar a sua produção interna. Antes disso, é preciso saber administrar essas crises", avaliou.
O analista lembrou ainda que a atual crise da Bolívia acontece em um momento em que o Brasil está um pouco mais fortalecido, por não estar dependendo das usinas térmicas. "Hoje as usinas que geram energia, fazem isso apenas para garantir a sustentabilidade do sistema, mas se uma interrupção do fornecimento se desse numa época de seca, o Brasil seria pego de calças curtas", disse.
AE
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