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Especialistas divergem sobre uso de usinas nucleares no Brasil

18 Abr 2011 - 06h11Por R7

Uma fonte de energia barata e que polui pouco a atmosfera. Os defensores das usinas nucleares não se cansam de enumerar as várias vantagens de uma alternativa que ainda tem um grande potencial a oferecer.

Do outro lado, porém, técnicos e ambientalistas chamam a atenção para os riscos embutidos na manipulação de material nuclear, como a contaminação de pessoas, rios e do solo, além do alto volume de investimento necessário para construir as centrais atômicas.

O acidente ocorrido em Fukushima, no Japão, inaugurou um novo debate e colocou em xeque a utilização de reatores nucleares para gerar energia elétrica. Os ecos dessa discussão chegaram ao Brasil, onde há hoje duas usinas em operação, responsáveis por 3% da energia produzida em território nacional, e a pretensão de construir pelo menos mais cinco nas próximas décadas.

O R7 ouviu especialistas para apontar os prós e os contras da energia nuclear. Afinal, nosso país precisa dessa alternativa para complementar sua matriz - baseada no sistema hidráulico (água) - e suprir a demanda de eletricidade que surgirá no futuro?

O supervisor de novos empreendimentos da Eletronuclear, Drauzio Atalla, lembra que o Brasil, onde vivem 200 milhões de pessoas, ainda tem um consumo baixo de energia por habitante. Para sustentar o crescimento da economia nos próximos anos - e a consequente melhora de vida da população - o país certamente terá de ampliar a capacidade de geração.

- A eletricidade é parte das fundações da qualidade de vida. Consumimos 25% da eletricidade que é consumida por um cidadão americano, por um inglês ou um francês, em média. Se quisermos nos aproximar dos índices de primeiro mundo, precisamos aumentar a oferta para a população. Precisamos de novas fontes, e aí entra a discussão.

O presidente da Aben (Associação Brasileira de Energia Nuclear), Edson Kuramoto, faz um alerta. Segundo ele, o potencial do sistema hidráulico brasileiro, responsável por mais de 90% de toda a eletricidade produzida, deve entrar em declínio na próxima década, o que forçará a busca por alternativas para complementá-lo.

- Nosso potencial hidráulico é limitado, a partir de 2025 se reduz muito. O Brasil precisará de uma fonte alternativa que gere energia em grande escala e que seja competitiva. Ainda mais considerando que, devido ao problema do aquecimento global, as térmicas que usam combustível fóssil (como gás e carvão) terão mais dificuldade.

Ao lado da matriz eólica (vento) e da hidráulica (água), a nuclear está entre as menos poluentes. Ao operar, uma usina nuclear emite baixas quantidades de gases causadores do efeito estufa, como o CO2.

Embora reconheça a importância da geração nuclear, o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP (Universidade de São Paulo), Ildo Sauer, argumenta que o Brasil, por dispor de uma ampla variedade de opções, com possibilidade de gerar energia a partir da água, do sol e dos ventos, não deve considerar a construção de novas usinas como uma prioridade.

- A humanidade não pode renunciar à energia disponibilizada no campo nuclear. Agora, tem de ser usada à medida que se confronta essa alternativa com as outras possibilidades de produzir energia. No caso do Brasil, não me parece ser uma prioridade a geração de energia nuclear no momento.

De acordo com o especialista, que é doutor em engenharia nuclear pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos EUA), bastaria ao país racionalizar o consumo de energia e modernizar a estrutura já existente para dar conta do 1,1 bilhão de MWh (megawatt/hora) necessários para cobrir a demanda prevista para a década de 2040.

- Se nós usarmos 70% do potencial hidráulico hoje disponível no Brasil, mais 50% da eólica, isso nos permitiria gerar 1,4 bilhão de MWh por ano. Portanto, sobrariam 300 milhões de MWh.

Sauer chama a atenção também para o custo envolvido na construção de uma usina nuclear, bastante elevado. Apenas para erguer Angra 3, o governo brasileiro pretende investir R$ 10 bilhões até 2015.

- A estimativa é que essas quatro novas usinas nucleares (previstas para 2030, mas que ainda não saíram do papel), mais Angra 3, custarão R$ 40 bilhões. Outras opções terão um custo inferior a R$ 20 bilhões. A pergunta é: por que gastar 40 se você pode obter a mesma energia por 20?

Atalla reconhece que um dos grandes obstáculos à expansão do programa nuclear é mesmo o dinheiro necessário para implantar uma central. Ele afirma, no entanto, que se trata de um negócio rentável. Em pouco tempo, diz o especialista, a usina nuclear consegue se pagar.

- Ela representa um risco financeiro significativo, mas tem capacidade de, dentro de 15 anos, devido a sua grande geração de receita quando começa a funcionar, amortizar o capital investido. Além disso, uma usina demora cinco, seis anos para ser construída, mas depois opera por 50, 60, 80 anos. É um ativo que vai ficar em produção durante quase um século.

Se, por um lado, levantar uma usina exige muitos recursos, o supervisor de novos empreendimentos da Eletronuclear ressalta que, em compensação, o combustível usado nas usinas, obtido do urânio, é barato. O Brasil, além disso, é rico em urânio - tem a sétima reserva do mundo com apenas 25% do território nacional mapeado.

Segurança

O risco de acidentes e a necessidade de guardar os chamados rejeitos - restos do material nuclear processado dentro das usinas - são dois fatores negativos sempre apontados pelos opositores da energia nuclear. Kuramoto, presidente da Aben, contesta os críticos e lembra que qualquer unidade industrial está sujeita a problemas e imprevistos.

- A busca por segurança nas usinas é incessante. Sempre há um risco, e o que se faz é reduzir o máximo possível esse risco. E, mesmo que ocorra um acidente, para que não impacte o meio ambiente nem afete a saúde das pessoas.

Quanto ao armazenamento dos rejeitos, que necessitam ser monitorados por centenas ou até milhares de anos, Atalla explica que as soluções que existem hoje já são suficientes. Segundo ele, não há motivos para temor.

- A solução técnica é suficiente para décadas, e uma solução definitiva está sendo implantada em alguns países, mas o público espera um dia poder abrir o jornal e ler uma manchete dizendo que o problema do rejeito nuclear foi resolvido.

Kuramoto afirma que já existem estudos em curso no exterior que permitiram reduzir o período de armazenamento dos rejeitos nucleares significativamente.

- Já existe, em caráter experimental, um modelo de usina, que se chama de usina híbrida, que além de gerar energia incinera o rejeito de alta atividade. Com isso, é possível reduzir o período de armazenamento para 500 ou até 100 anos.

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