Ao menos dois mil presos são mantidos em delegacias da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, sem estrutura carcerária, segundo relatório inédito preparado desde a segunda metade do ano passado pelo Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis). Diretores da entidade visitaram as unidades policiais e, por meio de registro fotográfico e relatos dos policiais, produziram um documento que expõe uma condição que ruma ao caos.
Na última investida do estudo, os diretores do Sinpol notaram que o alojamento dos policiais civis da delegacia de Sete Quedas, cidade distante 459 km de Campo Grande, ao invés de abrigar os escrivães e os investigadores em horários reservados para o descanso, viraram celas para os detentos favorecidos com o regime semiaberto.
Fotografias tiradas pelos dirigentes sindicais exibem uma série de falhas estruturais no alojamento. Uma delas: o local, antes construído para servir de abrigo aos policiais, possui janelas de vidros e não há distância dali para a rua. Isto é, se alguém quiser entregar uma arma ao detido, por exemplo, não terá obstáculo algum. Detalhe: perto do alojamento fica a cela dos presos que cumprem prisão em regime fechado.
Note trecho de um texto publicado no site do Sinpol, que retrata o risco de o alojamento ter sido transformado em cela: Outra preocupação é a possível integração desses presos semiaberto com os presos que cumprem pena em regime fechado. “Se o semiaberto conseguir receber algo pela janela, pode fornecer facilmente aos outros presos e não podemos ser responsabilizados por isso”, explicou um policial da delegacia. Até semana passada, a delegacia abrigava sete presos do regime semiaberto [condenados que cumprem penas somente à noite] e dez no regime fechado.
Ainda de acordo com o relatório do Sinpol, essa delegacia, em Sete Quedas, conta com apenas um investigador no período da noite. Um exemplo que deixaria o prédio desguarnecido: se houver uma batida de carro na cidade, por exemplo, é missão desse policial em seguir até a ocorrência. Acontecido isso, o investigador é obrigado e fechar a delegacia, registrar o caso e retornar.
Cerca de dois meses atrás, na delegacia da cidade de Costa Rica, que também possui cadeia, ocorreu uma situação que pôs em risco uma única investigadora que cumpria plantão à noite. Ela saiu para registrar um acidente e, ao retornar para a delegacia, as celas estavam vazias. Naquele dia ao menos 20 encarcerados escaparam após arrebentarem os cadeados das celas. No dia seguinte ao episódio, todo o efetivo policial da cidade, entre militares e civis, tiveram de recapturar os detidos.
De acordo com o Sinpol, os presos em delegacias deveriam ficar por lá por um período, até que seja acertada a transferência do detento para o presídio. Ocorre que, segundo a entidade, existe encarcerados já condenados, cumprindo pena em delegacias, condição ilegal, segundo a entidade.
De acordo com o comando do Sinpol, o levantamento nas delegacias não tem sido preparado como a intenção de denunciar o caos, mas, sim, o de “colaborar” com a Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública). Até esta terça-feira, restava ao sindicato visitar apenas regiões, de Ponta Porã e a de Naviraí.
Na delegacia de Miranda, segundo a pesquisa, havia até pouco tempo detentos homens cumprindo penas perto das celas das mulheres.
As mulheres foram transferidas para a delegacia de Bodoquena, mas tiveram de ser reconduzidas de novo para Miranda. É que em Bodoquena, nenhuma empresa quis fornecer café da manhã, almoço e jantar, a um custo de R$ 8 diários pelas três refeições. Hoje, esse caso é tratado pelo DPI (Departamento de Polícia do Interior).
Material editado para acréscimento de informação às 11h46 minutos
Divulgação |
Abrigo de policiais que virou cela de presos do regime semiaberto, na delegacia de Sete Quedas |
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