O petista Luiz Inácio Lula da Silva chegou a desafiar o tucano Geraldo Alckmin a comparar os investimentos em saneamento realizados nos oito anos do governo FHC (1995-2002) com os quase quatro anos de administração petista. "Nenhum governo investiu tanto em saneamento básico como o nosso. Foram R$ 10 bilhões nesses quatro anos. São 14 vezes mais dinheiro disponibilizado”, disse Lula.
Na realidade, o governo anterior destinou - pelo mesmo critério - R$ 13,5 bilhões para a área de saneamento, de acordo com estudo oficial divulgado pelo próprio Ministério das Cidades e pela Secretaria do Tesouro Nacional, em dezembro de 2004, já na gestão petista.
Além disso, tanto os R$ 10 bilhões do governo Lula quanto os R$ 13,5 bilhões de FHC não correspondem ao efetivo desembolso de recursos para as obras de saneamento. Representam o valor inicialmente disponibilizado, entre recursos do Orçamento e empréstimos do FGTS e do BNDES.
Mesmo contando esses financiamentos, de acordo com o Ministério das Cidades, o governo do PT aplicou efetivamente apenas R$ 3,4 bilhões até março deste ano - um terço do valor que aparece na propaganda oficial. Em apenas dois anos, entre 2001 e 2002, o governo FHC gastou igual quantia, quase integralmente por meio de recursos orçamentários.
Ao citar o Bolsa-Família, o presidente Lula acertou no número oficial - 11,1 milhões de famílias atendidas hoje -, mas omitiu que seu governo não partiu do zero nessa área. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso terminou seu segundo mandato com os programas que deram origem à iniciativa petista atendendo pouco menos de 6 milhões de famílias - mais precisamente 5.010.331 famílias no Bolsa-Escola e 966.553 no Bolsa-Alimentação.
Ao mostrar números sobre energia, Lula também derrapou. Desde o início do seu governo, foram acrescentados ao sistema elétrico nacional 12.509 megawatts, número inferior aos 13 mil MW que o presidente mencionou no debate. É um arredondamento nada insignificante. A diferença entre o número real, calculado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e o dado citado por Lula, 500 MW, equivale a uma usina hidrelétrica de médio porte, como a de Cana Brava, no Rio Tocantins, que tem 456 MW de potência.
Outra obra na área de infra-estrutura citada por Lula no debate, a ferrovia Transnordestina, teve suas obras só iniciadas em junho deste ano. A previsão do governo é de que todas as obras estarão prontas em cerca de quatro anos. A ferrovia, de 1.800 quilômetros, ligará Eliseu Martins, no Piauí, aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE).
Os candidatos também se equivocaram ao irem para o ataque. O tucano Alckmin, por sua vez, exagerou ao dizer que seu oponente tinha gasto mais em publicidade do que em saneamento. Restringindo-se às verbas orçamentárias, Lula já gastou R$ 413,5 milhões em publicidade e R$ 2,23 bilhões em saneamento.
O candidato do PSDB também errou ao dizer que Lula gastava R$ 8 bilhões por ano com o pagamento de 20 mil cargos de confiança. As gratificações pagas aos 19.925 cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS) da administração federal custaram, no ano passado, R$ 685,4 milhões, de acordo com o Boletim Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento. O ex-governador paulista também atacou o adversário por gastar R$ 700 milhões por ano com viagens e diárias, mas omitiu o fato de que o governo FHC gastava valor parecido. Foram R$ 2,35 bilhões de gastos no triênio 2003-2005, contra R$ 2,53 bilhões de 2000 a 2002.
Alckmin também disse que economizou R$ 4 bilhões em três anos, mas os dados de execução orçamentária do Estado de São Paulo mostram que as despesas de custeio aumentaram de R$ 10,6 bilhões em 2002 para R$ 13,7 bilhões em 2005, já descontado o efeito da inflação.
O tucano reprovou a atitude de Lula de comprar um avião no exterior e “de luxo” para seus deslocamentos. Ele anunciou que pretende vender o Aerolula, se for eleito, como fez no governo do Estado. Segundo Alckmin, ele repassou os dois helicópteros que o governador tinha para a Polícia Militar - o que a Secretaria da Segurança Pública confirma.
Alckmin omitiu, no entanto, que os helicópteros são usados nos deslocamentos do governador sempre que necessário - ocasiões em que deixam de ser usado no combate ao crime.
Estadão
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