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Brasil

Agricultura avança sobre pecuária no Rio Grande do Sul

8 Set 2004 - 15h17
Grandes extensões de terras, com campos lisos e gado pastando à vontade já estão deixando de ser paisagens tradicionais do Rio Grande do Sul. A pecuária gaúcha está sendo abatida por uma grande crise. Produtores descartam matrizes, o rebanho diminui e os preços praticados no estado são semelhantes aos de fronteiras agropecuárias no Norte do País.

A competição com o Centro-Oeste, a falta de espaço para a agricultura - que é mais rentável -, a inexistência de frigoríficos exportadores, o abate clandestino, a sonegação fiscal e a ocorrência de febre aftosa, em 2000, são apontadas como causas do processo de falência da pecuária no Rio Grande do Sul. "A época áurea se exauriu quando entraram os planos econômicos", afirma o veterinário Paulo Ene, da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS). Foi na década passada que o estado perdeu boa parte de suas unidades frigoríficas.

À margem disso, a venda de reprodutores de elite ainda atrai produtores de outros estados, em busca da genética européia. E é nesta diferenciação que os pecuaristas pretendem apostar para reanimar a cadeia da carne bovina, ou seja, fazer o marketing da South Brazilian Beef e de outras denominações para as carnes do Pampa Gaúcho.

Os dados da pecuária do Rio Grande do Sul decepcionam. A produção de carne sofreu um baque em 2000, quando atingiu 296,5 mil toneladas, e hoje está em 271,3 mil toneladas. Junto com isso, nos últimos anos o estado perdeu oito unidades frigoríficas e possui atualmente nove empresas, apenas uma habilitada para a exportação. Há 10 anos o estado tinha um rebanho de 14,5 milhões de animais. Hoje, são 13,5 milhões, uma queda de 7,3%. No mesmo período, o rebanho brasileiro aumentou 20,8%, chegando a 191,2 milhões de cabeças, segundo dados da Cogo Consultoria. "Está havendo deslocamento da pecuária para o Norte do País", afirma o consultor Carlos Cogo.

Redução de pastagens

Aliado a isso, está havendo redução das pastagens. Segundo a Scott Consultoria, de 2001 para 2003, a área destinada ao pasto caiu 5,7% chegando a 11 mil hectares. Ene afirma que muitos produtores estão optando pelos grãos e levando o gado para regiões com campos de menor qualidade.

Ele cita o caso da região de Rio Pardo, onde o rebanho diminuiu em 30 mil cabeças no ano passado. No mesmo período, Encruzilhada do Sul, área de serra, com menor potencial produtivo, recebeu igual volume de animais.

Outro indicativo da crise - e que reforça a tendência de abandono da atividade - é o baixo preço praticado para o boi gordo criado no Rio Grande do Sul. Segundo dados da Cogo Consultoria, o valor cobrado pelo arroba do gado gaúcho é 15% inferior ao praticado pelo gado em São Paulo e semelhante ao do Norte do País. Ene diz ainda que o pecuarista está praticamente pagando para criar boi, uma vez que o custo de produção gira em torno de R$ 1,90 o quilo vivo e o preço pago pelos frigoríficos está em R$ 1,70 o quilo vivo. "Ninguém agüenta por muito tempo", afirma.

Segundo informa o presidente da Comissão de Pecuária de Corte e Indústria da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Fernando Adauto Loureiro de Souza, com o avanço da soja, há um aumento da pastagem de inverno que é desocupada em outubro, para o plantio do grão, ocasionando uma bolha de oferta e, conseqüentemente, reduzindo a cotação do gado bovino.

Para Souza, o preço do boi está relacionado ao mercado. Segundo ele, nos últimos anos quase todo o abate do Rio Grande do Sul tem se voltado para o mercado interno. "Os estados com preços melhores são os exportadores", afirma o secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, Odacir Klein. E, neste quesito, o Rio Grande do Sul também está com problemas. Apenas uma empresa é habilitada para comercializar com a União Européia (UE), mercado mais exigente e que remunera melhor.

Exportações

O frigorífico Mercosul é hoje o único apto a exportar para a União Européia. Para o presidente da empresa, Mauro Luís Piltz, o fato de a unidade se voltar para o mercado interno e o externo é que fez com que o frigorífico sobrevivesse à crise da cadeia produtiva da carne. Piltz salienta ainda que outro fator determinante foi a empresa obter habilitação para vender para a União Européia em 1999, antes do foco de aftosa do Rio Grande do Sul. Hoje, 45% do faturamento do frigorífico é oriundo das exportações, que devem totalizar US$ 60 milhões em 2004. Mesmo depois da ocorrência da doença no estado, o Mercosul abriu duas unidades: em Santana do Livramento e em Capão do Leão.

União Européia, Chile e Oriente Médio são os principais mercados consumidores da carne do Mercosul. Piltz diz que comercializa muito com o Oriente Médio devido ao padrão das carcaças do gado gaúcho - inadequado ao mercado europeu. Segundo ele, apenas 20% da matéria-prima se enquadra para exportações em termos de peso, conformação e acabamento. "A grande dificuldade do Rio Grande do Sul é o padrão da matéria-prima", afirma Piltz. Por isso, de acordo com ele, o frigorífico paga R$ 58 pela arroba do boi destinado à exportação, que deve ser rastreado. Outro problema para os pecuaristas do estado: estima-se que nem 10% do rebanho gaúcho esteja no Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov).

A sonegação fiscal e, conseqüentemente o abate clandestino de gado, também é apontada como problema para a pecuária gaúcha. "A sonegação destruiu a cadeia produtiva", afirma Souza. Segundo especialistas do setor, entre 45% e 60% do abate é irregular - não passa por inspeção, nem paga imposto. "Com informalidade não se faz mercado", afirma Ene. De acordo com ele, a elevada carga tributária - próxima a 32% - estimula a sonegação. Além disso, a concorrência com outros estados, com política tributária diferenciada, faz com que alguns produtos entrem a preços mais competitivos no Rio Grande do Sul. A informalidade é tão grande que o secretário de Agricultura diz que o abigeato (roubo de gado) toma proporções alarmantes na fronteira.

Mas os números mostram que o tiro letal na pecuária gaúcha foi o do rifle sanitário. Em 2000, um foco de aftosa no município de Jóia fez com que o estado perdesse o status sanitário de zona livre sem vacinação. "Fomos pouco ágeis em mostrar ao mercado que o problema acabou", diz Ene. Segundo ele, o Uruguai, onde a ocorrência da doença ocupou todo o território, conseguiu se recuperar mais rápido e hoje vende a R$ 2,70 o quilo vivo do boi.

"A aftosa influenciou, mas não tínhamos indústria exportadora forte e não ganhamos novos mercados", explica Souza. De acordo com dados da Delegacia de Agricultura do Rio Grande do Sul, há 10 anos, o estado abatia 919,8 mil cabeças. No ano passado, foram 650,3 mil bovinos. Ou seja, em uma década, caiu em 30% o abate no Rio Grande do Sul. No entanto, a redução foi maior depois da aftosa. Em 2000, foram abatidos 812 mil animais. No ano seguinte, caiu para 640,7 mil bovinos. "A aftosa dificultou as exportações, foram criadas barreiras ao estado e até hoje o Rio Grande do Sul não pode mandar boi em pé para Santa Catarina", afirma Klein.
 
 
Agrolink 

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