Sofrer abusos durante a infância pode provocar a reprogramação de alguns genes, deixando a vítima mais vulnerável a doenças mentais e suicídio, sugere um estudo canadense publicado na revista especializada Nature Neuroscience .
Análises de tecido do cérebro de adultos que se suicidaram revelaram mudanças genéticas fundamentais entre os que tinham sofrido abusos quando criança.
De acordo com os cientistas, o estudo reforça o resultado de pesquisas anteriores, que mostraram que abusos durante a infância estão associados a uma reação mais intensa em situações de estresse.
Mas ainda não se sabe exatamente como fatores externos interagem com os genes e contribuem para a depressão e outros problemas mentais na fase adulta.
A equipe de pesquisadores da Universidade McGill, em Montreal, examinou o gene para o receptor glicocorticóide - que ajuda a controlar a resposta ao estresse - em uma região cerebral específica de 12 vítimas de suicídio com um histórico de abusos na infância e 12 vítimas que não sofreram abusos quando criança.
Eles encontraram alterações químicas que reduziram a atividade do gene naqueles que sofreram abusos durante a infância.
Esta redução levou a menos receptores glicocorticóides, o que levaria a uma resposta de intensidade acima do normal ao estresse, segundo o estudo.
A pesquisa sugere que as experiências durante a infância, quando o cérebro está se desenvolvendo, podem ter um impacto de longo prazo sobre a resposta de alguém a situações estressantes.
Mas o chefe da equipe, Michael Meaney, disse acreditar que estes efeitos bioquímicos também podem ocorrer em fases mais avançadas da vida. Para Meaney, o resultado mostra o que qualquer psicólogo infantil ou trabalhador no setor de saúde pública já sabe. "
Mas até você comprovar o processo biológico, muitas pessoas no governo e responsáveis pelas políticas na área permanecem relutantes em acreditar que é verdade." "
Além disso, você pode se perguntar se um remédio seria capaz de reverter estes efeitos e isto é uma possibilidade", afirmou Meaney.
Jonathan Mill, do Instituto de Psiquiatria do Kings College London concorda: "O mais empolgante sobre alterações epigenéticas (em que o meio ambiente controla a atividade genética) é que elas são potencialmente reversíveis e portanto seriam talvez um futuro alvo para intervenção terapêutica."
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