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Servidora tem aposentadoria cortada, sofre AVC, morre e família não é avisada

28 Jul 2018 - 13h40Por Extra

Em um intervalo de 48 dias, Marly Flávia de Oliveira morreu duas vezes. A primeira, no quinto dia útil de junho, quando foi ao banco buscar sua aposentadoria e descobriu que havia sido dada como morta e, por isso, estava com o benefício e o plano de saúde, descontado em folha, cortados. Sem dinheiro e sem seguro, a moradora de Todos os Santos, tão independente a vida toda, se viu pedindo ajuda à família.

Quinze dias após o fatídico extrato com saldo zero, a aposentada de 78 anos sofreu um AVC isquêmico enquanto dormia. Sem plano, acabou sendo levada para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, onde trabalhou como enfermeira por 34 anos. Após 33 dias na emergência, às 7h30 da última terça-feira, Marly morreu. A família só soube por volta das 13h, ao chegar para a visita. Os telefones do hospital estão cortados.

 

Marly tinha 78 anos e era servidora aposentada da prefeituraMarly tinha 78 anos e era servidora aposentada da prefeitura Foto: Álbum de família

 

— Perdi a pessoa que eu mais amava. Foi muito duro chegar ao hospital e ter que reconhecer o corpo no necrotério. E se não fôssemos visitá-la todos os dias? Quando saberíamos da morte? Ao lado dela, havia outros cinco corpos fora da geladeira. Há famílias que moram longe, não têm dinheiro para passagem e não vão sempre na visita. Por quanto tempo aqueles corpos ficarão ali? — questiona o neto de Marly, Bruno Oliveira, de 26 anos, ressaltando que a avó foi muito bem tratada no período em que ficou internada. — Ela era muito conhecida lá.

Bruno conta que, após ter a aposentadoria suspensa, a avó ficou “desestruturada”:

— No ano passado, aconteceu a mesma coisa. Minha avó sempre foi uma pessoa independente. Na semana em que teve o AVC, ela reclamou muito de dor de cabeça. Minha avó sofria de pressão alta. Mas não podia ir à consulta porque estava com o plano de saúde cortado e sem dinheiro para táxi. Acredito que, com todo aquele estresse, a pressão descontrolou, e ela teve o AVC dormindo.

Segundo Bruno, no ano passado, a avó também teve a pensão e o plano de saúde, que descontava em folha, cortados.

— Ela descobriu quando estava entrando para uma cirurgia. A clínica informou que o plano estava suspenso e minha avó voltou para casa. Quando soube que isso aconteceu pela segunda vez, ela ficou totalmente desestruturada — disse o rapaz.

Família diz que Marly foi se recadastrar

A aposentadoria de Marly foi cortada porque ela não teria feito o recadastramento no Banco Santander, em abril. O neto, Bruno Oliveira, no entanto, garante que esteve com a avó em uma agência do banco e um atendente informou que estava tudo certo.

— Minha avó já estava preocupada, porque teve a aposentadoria suspensa no ano passado. Então, em abril, fomos a uma agência do Santander e lá nos disseram que ela não precisava fazer o recadastramento — diz Bruno.

Após ligar para o Previ-Rio, fundo responsável por gerir aposentadorias e pensões no município do Rio, Bruno descobriu que a avó havia sido dada como morta, por não ter feito o recadastramento. No dia 8 de junho, ele e a avó foram ao banco e regularizaram a situação.

— Também entramos em contato com o plano de saúde para reativá-lo. Mas quando minha avó passou mal, ela ainda estava sem o plano e sem a aposentadoria — diz ele.

Em março do ano passado, como medida de corte de custos, o Previ-Rio suspendeu o envio de contracheques pelos Correios aos mais de 80 mil inativos e pensionistas vinculados ao fundo. O serviço teria um custo de R$ 4,4 milhões por ano. No contracheque, uma mensagem alertava aposentados e pensionistas sobre o recadastramento, já que muitos não acessam internet.

A assessoria do Previ-Rio informou que o benefício foi suspenso porque não recebeu do Santander informações sobre o recadastramento de Marly. Já a assessoria do banco afirmou que a aposentada não realizou a prova de vida no prazo estipulado, e que, após a efetivação, no dia 8 de junho, o pedido de normalização do recebimento do benefício foi encaminhado ao órgão responsável.

Três hospitais estão com as linhas cortadas

Os telefones do Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, estão cortados desde segunda-feira. Funcionários da unidade informam que o motivo seria falta de pagamento. O problema se repete em outras unidades, como no Souza Aguiar, no Centro, e no Miguel Couto, na Gávea.

A Secretaria municipal de Saúde informou que o funcionamento das linhas telefônicas foi prejudicado devido a “problemas externos no serviço prestado pela operadora de telefonia” e que a empresa já havia sido acionada para restabelecer o serviço. Ontem, o Salgado Filho ainda estava sem telefone.

 

Na manhã em que Marly morreu, a emergência estava lotadaNa manhã em que Marly morreu, a emergência estava lotada Foto: Divulgação / divulgação

 

Cirurgias suspensas e superlotação

Os problemas enfrentados por quem precisa de atendimento nos hospitais municipais vão além da falta de comunicação, em função do corte nas linhas telefônicas. No dia em que Marly Oliveira morreu na emergência do Hospital Salgado Filho, um profissional de saúde da unidade denunciou a superlotação na sala amarela do setor.

— Uma maca grudada à outra. Tem pacientes aqui que não tomam recebem higiene há três dias — disse ele, que pediu para não ser identificado.

A superlotação também é uma realidade nas emergências dos hospitais Souza Aguiar, no Centro, e Pedro II, em Santa Cruz. Na sala amarela do hospital da Zona Oeste, com capacidade para 21 pacientes, 90 estavam internados internados na última quarta-feira.

O Pedro II passa por uma crise de abastecimento e suspendeu cirurgias eletivas ortopédicas e neurológicas. Este mês, a organização social SPDM, que administra o hospital, atrasou o salário dos funcionários. Sem dinheiro para passagem, muitos profissionais deixaram de ir trabalhar. No último fim de semana, quatro corpos ficaram no expurgo da sala vermelha e só foram liberados na segunda-feira à tarde, porque não havia ninguém para fazer o trâmite. Os salários foram depositados na quinta-feira.

Nesta quinta-feira, uma enfermeira relatou ao EXTRA que pacientes graves acabam morrendo sem que ninguém perceba porque os monitores cardíacos não funcionam adequadamente.

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