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GUERREIRA

'Neguei o câncer até enxergar o tumor' relata maquiadora que comemora cura após 6 anos de tratamento

"Tratar um câncer vai muito além da questão física, as crises de pânico, a aversão à própria imagem, o mal-estar, o dano psicológico é um grande desafio que nos faz entender a vida de outra maneira" relata Jaqueline Keller, de 39 anos.

25 Fev 2019 - 07h17Por G1 MS

Em 2011, a vida de Jaqueline Keller Miranda, de Campo Grande (MS), "jovem, saudável, recém-chegada da Europa e com planos de voltar, com o sonho de casar e ter uma família" como ela relata, mudou completamente em abril daquele ano, no dia em que sentiu um nódulo no seio. "Quando mostrei para a minha mãe ela parece que pressentiu, começou a chorar". Ela procurou um mastologista que sugeriu cirurgia para que o nódulo fosse retirado e enviado para biópsia. Em outubro, o resultado chegou e o médico comunicou à mãe de Jaqueline. Na consulta, as palavras que a família tanto temia ouvir:

"O médico me disse 'Olha Jaqueline, infelizmente o tumor é maligno e é um tipo agressivo', e quando ele falou que eu teria que retirar a mama e fazer quimioterapia, na hora perdi o chão. Sempre fui saudável, não tínhamos histórico na família, nem entendia o que aquilo significava e mal sabia o que viria pela frente", conta.

Hoje com 39 anos, a maquiadora conta que mesmo com o diagnóstico, o medo fez com que ela ignorasse o tumor e negasse a doença.

 

"Depois da notícia eu fiquei em choque e não aceitava a doença. Fiquei revoltada com Deus e decidi que não queria fazer quimioterapia, não queria tratar, eu não aceitava que estava doente".

 

Em janeiro de 2012, após procurar uma psicóloga, ela decidiu então buscar informações em São Paulo, no Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), quando sentiu que mesmo após a cirurgia, havia um caroço em seu seio. "Achava que aquilo era um seroma da cirurgia, e na verdade era outro tumor, que começou a crescer, crescer, até ulcerar. Ele tinha o tamanho de uma laranja", relata.

A partir desse momento, Jaqueline conta que ficou assustada e entendeu a necessidade do tratamento. "O tumor sangrava, eu ia com toalhas para o pronto-socorro e em crise de pânico, e os médicos diziam que não poderia fazer nada porque eu precisava tratar o câncer e não tratava". Então, ela decidiu começar: Foi para a cidade de São Paulo, conseguiu hospedagem em um hotel de trânsito da Polícia Militar e acompanhada pela mãe, começou o tratamento.

 

Jaqueline comemora a cura do câncer após 6 anos de tratamento em MS. — Foto: Alex Ruiz/Arquivo pessoal

Jaqueline comemora a cura do câncer após 6 anos de tratamento em MS. — Foto: Alex Ruiz/Arquivo pessoal

 

Ao vencer uma batalha, outra começou

 

Em uma consulta na capital paulista, o primeiro médico que Jaqueline procurou disse algo que ela relata ter lhe aberto os olhos: 'Ele me falou 'Esse câncer é inoperável, você precisa começar a quimioterapia imediatamente, se não tratar, você vai morrer' e foi aí que começou efetivamente meu tratamento no IBCC", relata.

A maquiadora relata que sofreu muito durante os 9 meses de quimioterapia: "Tratar um câncer vai muito além da questão física. As crises de ansiedade, a aversão à própria imagem, o mal-estar, o dano psicológico é um grande desafio que nos faz entender a vida de outra maneira", conta.

"Eu ficava por 14 dias na cama, tomando medicação. Amava meu cabelo e ele logo começou a cair, eu não conseguia lidar com a careca, usava peruca. Quando minha mãe me viu careca pela primeira vez, ela desmaiou. Foi tudo muito difícil", conta.

Além dos sintomas físicos causados pela forte medicação, ela conta que a questão psicológica afetou-a de forma profunda: "Me sentia muito mal, a depressão e as crises de pânico eram constantes e na época não havia ajuda psicológica tão disponível, grupos de apoio ou perfis nas redes sociais, era complicado lidar com a revolta", conta.

Após 9 meses de quimioterapia, o médico sugeriu mastectomia, a cirurgia de retirada da mama: "Quando o câncer 'derreteu', em 2015, tirei a mama e eu achei que ia ficar boa". Porém, no ano seguinte, o câncer apareceu novamente.

 

"Na hora eu pensei, 'não acredito que vou ter que passar tudo aquilo de novo'. Mal havia terminado uma batalha e tinha outra para começar."

 

 

Jaqueline Keller Miranda dias antes de começar a quimioterapia

Jaqueline Keller Miranda dias antes de começar a quimioterapia "Eu amava meu cabelo". — Foto: Arquivo pessoal

 

"Parei de brigar com Deus"

 

Mesmo sem a mama, o novo tumor apareceu no mesmo lugar, no tórax. Quando entendeu que teria que passar pelo mesmo processo novamente, ao invés de reviver a revolta, Jaqueline conta que seu primeiro pensamento foi que aquela luta deveria ter algum propósito.

 

"Eu parei de brigar com Deus e entendi que aquilo não poderia ser em vão, procurei uma razão e encontrei. Dessa vez eu amei minha careca, ao invés de peruca usei turbante, não tinha mais receio de assumir minha doença e isso foi libertador para mim."

 

Ela conta que tem amigas que também vivem a dificuldade de lidar com a doença e a relação com a própria imagem: "Essa questão é muito complicada para a mulher e precisamos falar sobre isso. A aceitação é um processo pessoal e é preciso muita paciência para enfrentar esse momento".

O segundo ciclo de tratamento terminou no final de 2018 e desde então, os exames apontam que Jaqueline venceu o câncer. O cabelo voltou a crescer e as lições que ela carrega de 6 anos tratando a doença são divididas com todos que a rodeiam:

"Aprendi a ser grata a cada momento vivido com a família, a ter mais empatia pelo meu próximo, a ajudar quando necessário. Hoje dou menos valor a coisas materiais e valorizo ao máximo o amor e a saúde, as pequenas alegrias em família, tudo, cada minuto", relata.

Para ela, a autoestima passou a ter outro significado: "Hoje amo meu cabelo curtinho, entendo a minha beleza de outra forma".

 

"A autoestima passou a ter outro significado" relata a maquiadora que venceu o câncer. — Foto: Arquivo pessoal

Para quem está vivendo o mesmo sentimento que Jaqueline conheceu ao receber o diagnóstico, ela gostaria que sua experiência servisse de exemplo sobre a necessidade de buscar tratamento assim que o câncer é descoberto:

"O tempo é precioso, protelar é um erro. É preciso enfrentar tudo com muita paciência e leveza, buscar compreender que estamos sujeitos e esquecer a revolta. O psicológico é 50% do tratamento, precisamos focar na cura com fé e esperança", declara.

 

"Há uma frase que me ensinou muito: 'Se você foca na dor, continuará a sofrer, se foca na lição, continuará a crescer', e foi essa a escolha que fiz."

O último tratamento, feito com bloqueadores e anticorpos foi bem-sucedido. Hoje, os médicos fazem exames constantes para que Jaqueline possa abrir mão da medicação, como ela relata, seus exames hoje estão "limpos". Para o futuro, ela tem apenas um plano: "Aproveitar a vida, cada dia, cada momento, agradecendo o tempo todo por isso", finaliza.

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