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FATIMASSULENSE - ENTREVISTA

Entrevista: Fatimassulense pesquisador da história política do MS e professor fala tudo do MS 40 Ano

MS 40 Anos: Entrevista com o professor e pesquisador de história política do Estado, Wagner Cordeiro

10 Out 2017 - 22h35Por FÁTIMA NEWS / REDAÇÃO

O Fátima News publica nesta semana em que Mato Grosso do Sul completa 40 anos de criação, uma entrevista com o professor e pesquisador sobre a história política do estado, Wagner Cordeiro Chagas. Ele é graduado e mestre em História, desde 2014, pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Nascido em Fátima do Sul, no ano de 1984, o professor é filho de comerciantes do ramo de lanchonete e leciona nas escolas estaduais Senador Filinto Müller e Vicente Pallotti, desde 2009. Estudou todo o ensino básico em escolas estaduais de nossa cidade e ingressou, em 2005, no curso de História da então UFMS de Dourados, hoje UFGD.

Colaborador de artigos do site Fátima News, desde 2008, Wagner também é autor de 2 livros: “Política, História e Alguns Desabafos” (2013/Editora Seriema), uma coletânea de artigos publicados em diversos jornais de MS; e “As Eleições de 1982 em Mato Grosso do Sul” (2016/Life Editora), fruto de sua pesquisa de mestrado. Atualmente auxilia na pesquisa sobre a história das ruas de Fátima do Sul (idealizada pela professora Claudia Capilé), pesquisa sobre a história da FETEMS; e a respeito da história política de MS, abarcando desde 1977 até os dias atuais.

Acompanhe a entrevista.

Fátima News: Como e quando surgiu a ideia de pesquisar a história de Mato Grosso do Sul?

Wagner Cordeiro: Desde a 8 série, no ano de 2000, eu já me interessava pelas aulas de História. O professor que me despertou o gosto pela matéria foi o Roque Stefanello. O interesse por conhecer a história política de nosso estado nasceu no ano de 2002, quando eu cursava o 2 do Ensino Médio na saudosa Escola Estadual Izabel Mesquita. Na época a Secretaria de Educação do Estado tinha como uma de suas políticas as aulas de projeto e nossos professores decidiram trabalhar a história de Mato Grosso do Sul. Foi aí que entrei em contato com 2 textos, um da historiadora Marisa Bittar e outro do escritor Hildebrando Campestrini, ambos sobre a história de MS. Despertou-me curiosidade a história dos governos do Estado. Outra coisa que me despertou interesse por história política foram as eleições presidenciais daquele ano. Votei pela primeira vez para presidente e governador. Desenvolveu-se em mim, sem dúvida devido à minha origem humilde, as ideias de esquerda moderada, de justiça social, de pensar nos mais pobres. Votei em Lula para presidente e Zeca do PT para governador. Depois, quando ingressei no curso de História da UFGD descobri que ali havia um Centro de Documentação Regional (CDR), onde existe um vasto acervo de documentos relacionados a Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, como jornais, revistas, fotos, materiais de campanhas eleitorais, livros. Para completar, na universidade participei, de modo bem tímido, do movimento estudantil, e, em 2007 filiei-me ao Partido dos Trabalhadores (PT), no qual permaneci até 2015. Milito desde 2009 no SIMTED de Fátima do Sul por acreditar que somente através da luta sindical construiremos um mundo um pouco mais justo para a classe trabalhadora. Então tudo isso foi me despertando e gerando ideias.

Fátima News: E por que o gosto pela História Política?

Wagner Cordeiro: Vou aproveitar e fazer um parênteses aqui. Devido a meu interesse por pesquisar, conhecer a história política, muitas pessoas confundem e acham que eu tenho pretensões políticas, de ser candidato a algum cargo de representação política. Não tenho. O meu interesse é apenas na pesquisa. Contribuir para a construção de um país mais crítico que resolva seus problemas por meio do diálogo, da democracia. Interessei-me por esse campo da História porque a política faz parte das nossas vidas. Tudo perpassa pela política. As decisões políticas mexem com a vida e a história de todos nós. Só pra ter um exemplo bem claro, basta vermos o que as decisões políticas estão fazendo com nosso Brasil ultimamente. Por isso resolvi pesquisar a história política de Mato Grosso do Sul. Tenho muito interesse também pela história política do Brasil, até porque não é possível entender o nosso estado sem entender o Brasil, o mundo. Um dia ainda quero escrever algo também sobre a história política de nossa querida Fátima do Sul. Já tenho muito material coletado. Falta tempo pra sentar e por no papel. Mas, se Deus quiser, daqui a alguns anos vai sair.

Fátima News: E sobre as eleições de 1982 em Mato Grosso do Sul, qual o motivo de ter escolhido esse tema para sua pesquisa de mestrado em História?

Wagner Cordeiro: As eleições de 1982 foram muito importante para Mato Grosso do Sul e para o Brasil. No Mato Grosso do Sul foi a primeira vez em que os eleitores do recém-criado estado puderam votar para o cargo de governador. Numa disputa entre defensores da ditadura e oposicionistas a ela, a oposição venceu. O governador eleito foi o Wilson Barbosa Martins, do PMDB, numa disputa com José Elias Moreira, do PDS, candidato do então governador Pedro Pedrossian (PDS), Wilson Fadul, que era do PDT do Leonel Brizola, e Antônio Carlos de Oliveira, do PT. Em nível nacional, o pleito de 1982 foi um divisor de águas no processo de redemocratização do País, já que de 1966 até 1981, a ditadura militar proibiu os eleitores brasileiros de escolherem os governadores dos estados. Naquela eleição a oposição à ditadura venceu em 10 estados (9 governadores do PMDB e um do PDT, Brizola, no Rio de Janeiro)Na ditadura também era proibida eleição para presidente da República e prefeito, nos municípios considerados área de segurança nacional, como municípios de fronteira com outros países, capitais e locais onde existissem usinas hidrelétricas.

Fátima News: Você poderia explicar, resumidamente, quais motivos levaram à divisão do antigo Mato Grosso e a criação de Mato Grosso do Sul?

Wagner Cordeiro: Vamos lá. É algo bem longo. Vou tentar sintetizar. Primeiro, existem poucas pesquisas sobre esse tema no nosso estado. A pesquisa que considero mais abrangente a esse respeito é a da historiadora Marisa Bittar, doutora em História, ex-professora da UFMS e hoje na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAr), no estado de São Paulo. De acordo com ela, as ideias separatistas se originam no final do século XIX, lá por 1892. Eram ideias de alguns políticos e fazendeiros do sul do antigo Mato Grosso (o que basicamente é hoje o Mato Grosso do Sul). No entanto, eram ideias fracas e que surgiam devido a algumas disputas políticas entre o sul e o norte de Mato Grosso. Ao longo do século XX o sul de Mato Grosso foi se destacando mais do que o norte. A chegada da ferrovia Noroeste do Brasil (NOB), no sul, em 1914, foi um passo importante para isso. No ano de 1932 as coisas ficaram mais interessantes por aqui. Pela primeira vez os ideais divisionistas se fortaleceram. Naquele ano houve uma revolução do estado de São Paulo contra o presidente Getúlio Vargas. A Revolução Constitucionalista. Nessa história toda, alguns políticos do sul de Mato Grosso, como Vespasiano Barbosa Martins, moradores de Capo Grande, lideraram um movimento rebelde contra o governo de Cuiabá. Por uns 3 meses o sul do estado ficou sob o comando do Governo Paralelo de Mato Grosso.  Caso eles conseguissem dividir o estado naquele ano, a ideia é que o novo estado se chamaria Estado de Maracaju. Mas não deu certo. O governo federal venceu a rebelião de SP e alguns líderes do movimento fugiram para o Paraguai para não serem presos. Mas o ato foi importante, pois daí um grupo de jovens estudantes do sul de Mato Grosso que faziam suas faculdades no Rio de Janeiro, fundou, no final de 1932 a Liga Sul-Mato-Grossense, para defender a divisão do estado. Depois tivemos a criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), que deu origem aos municípios de nossa região: Douradina, Fátima do Sul, Vicentina, Jateí, Glória de Dourados, Deodápolis e uma parte do município de Angélica. Essas terras foram doadas para quem quisessem vir para cá plantar e produzir alimentos, além, é claro, de povoar essas bandas. Vieram principalmente cidadãos nordestinos para colonizar essa região. Na década de 1950, o sul de Mato Grosso tinha mais deputados estaduais do que o norte. Entre 1947 e 1970, dos 5 governadores que o estado teve, 4 era do sul: Arnaldo Estevão de Figueiredo, Fernando Corrêa da Costa, Pedro Pedrossian e José Fragelli. Finalmente, no período da ditadura, deu-se a criação de Mato Grosso do Sul. No ano de 1975 o presidente Ernesto Geisel apresentou a ideia de divisão de Mato Grosso ao governador José Garcia Neto. Em agosto de 1977 o projeto começou a ser discutido no Congresso Nacional. No dia 11 de outubro de 1977 ocorreu o presidente assinou a Lei Complementar número 31. Estava dividido Mato Grosso e criado Mato Grosso do Sul. No entanto, a divisão foi um ato autoritário do presidente. Não houve uma consulta popular para saber se o povo mato-grossense queria ou não a divisão. Eram os tempos da ditadura, né? Numa ditadura é assim, o governo manda, o povo obedece. Se não quiser obedecer, apanha e pode até ser assassinado. E muitos foram. Aproveito a oportunidade aqui para dizer a muitos que estão por aí a defender a volta de uma ditadura militar no Brasil, que procurem se informar melhor a respeito do que é um regime ditatorial. Precisamos diminuir a corrupção, combater a onda de crimes, disso não tenho dúvidas. Mas com ditadura isso só piora. Por exemplo, vivemos numa democracia, ela não é perfeita, é verdade, tem muitas falhas. Na democracia se a polícia torturar algum inocente e essa pessoa recorrer à justiça, a instituição polícia pode sofrer consequências. Numa ditadura tortura é lei. Não importa se o sujeito é inocente ou não, todos correm o risco de ser torturados pelo Estado ou sofrer algo pior. Ditadura nem de direita, nem de esquerda. É algo que temos que lutar para que nunca mais volte no país. Deus nos livre disso!

Fátima News: E o que você poderia nos contar sobre Mato Grosso do Sul ao longo desses 40 anos?

Wagner Cordeiro: Vamos iniciar pela política. Pode-se dividir a história política de Mato Grosso do Sul em 3 períodos. Primeiro, uma fase em que os governadores foram nomeados pela Presidência da República, entre 1979 e 1980. O estado nasceu em 1977, mas somente no dia 1 de janeiro de 1979 foi instalado, ou seja, passa a existir oficialmente. O início do funcionamento de nosso estado foi bem complicado. Para se ter uma ideia, em 2 anos tivemos 4 governadores: Harry Amorim Costa, o primeiro nomeado. Demitido 6 meses depois devido as brigas políticas por aqui. Na verdade quem queria ser o primeiro governador era o Pedro Pedrossian. Mas as disputas entre outros líderes por aqui não permitiram o presidente nomeá-lo. Com a demissão de Harry, assumiu, por duas semanas, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Londres Machado. Em seguida assumiu Marcelo Miranda Soares. Em novembro de 1980 ele também foi demitido. Mais uma vez Londres Machado comandou o estado. E finalmente, naquele mês, Pedro Pedrossian foi nomeado governador pelo presidente João Figueiredo.

A partir de 1982 os governadores passaram a ser escolhidos pelo povo sul-mato-grossense. Entre 1983 e 1998, tivemos uma polarização política entre Wilson Barbosa Martins e Pedro Pedrossian. Foram governadores: Wilson Barbosa Martins (1983-1986); Ramez Tebet (1986-1987); Marcelo Miranda Soares (1987-1991); Pedro Pedrossian (1991-1994) e, novamente, Wilson Barbosa Martins (1995-1998). No ano de 1998 tivemos um marco na história política de Mato Grosso do Sul. Elegeu-se pela primeira vez um governador oriundo da classe trabalhadora, o então deputado estadual e bancário do Banco do Brasil, José Orcírio, o Zeca do PT.

Então, pode-se considerar que do governo Zeca (1999-2006), passando por André Puccinelli (2007-2014) e hoje com Reinaldo Azambuja (2015 até 2018), temos uma fase de renovação das figuras que comandam o estado. Creio que seja algo positivo, creio que sejamos um bom exemplo de estado com alternância de poder, o que é muito bom para a democracia, pois em 40 anos, em pouco tempo, tivemos essas experiências governamentais.

Fátima News: E em outros aspectos, como você avalia esses 40 anos de Mato Grosso do Sul?

Wagner Cordeiro: Bom, é preciso lembrar que cada governador fez sua parte, uns fizeram muito, outros nem tanto. Uns trataram funcionários públicos de forma cruel e outros não. Mas não se pode esquecer que não são apenas as lideranças que fazem a história de um estado, município, país. Todos nós fazemos a história, ajudamos a construir a história. Não é possível escrever o nome de todas as pessoas num livro didático de História para dizer que elas participaram do processo, mas é preciso ter em mente que cada ser humano ajuda nisso.

Aqui no nosso estado, não podemos nos esquecer nunca do período de sofrimento dos servidores públicos que em vários momentos tiveram seus salários atrasados, devido à crises econômicas, má gestão dos recursos públicos, autoritarismo de governos. Espero que isso nunca mais ocorra. Aqui tivemos movimentos importantes que repetiram o que ocorria em outras partes do Brasil. Um dos mais importantes dele foram as Diretas Já, entre 1983 e 1984. Campo Grande e Dourados foram destaque nesses movimentos que lutavam pela volta das eleições diretas para presidente da República. O Fora Collor, em 1992, também foi muito forte, principalmente em Campo Grande.

Na questão social, por exemplo, creio que o estado avançou em alguns aspectos, com políticas públicas para a redução da pobreza, para o ingresso do filho do trabalhador, dos negros, dos índios na universidade pública. É preciso lembrar que essas políticas só saíram do papel graças aos avanços sociais vividos pelo Brasil nos últimos anos. Diga-se Governos Lula e Dilma. No entanto, é uma pena que alguns membros do partido desses governos tenham se enveredado pelos caminhos da corrupção, um problema sério de nosso país, que não nasceu hoje. Vem desde quando Cabral chegou por aqui, em 1500.

Por fim, eu creio que precisamos avançar em muitas coisas em Mato Grosso do Sul. Melhorar a vida dos mais pobres, garantir um desenvolvimento sustentável, que gere para o estado e para o Brasil não apenas riquezas materiais, mas, mais amor ao próximo, solidariedade, ou como diria meu orientador do mestrado, professor Paulo Cimó, da UFGD, a felicidade nacional bruta. Agradeço a vocês do Fátima News  pela oportunidade de fazer aquilo que sempre me propus quando ingressei no mestrado, compartilhar o conhecimento que tive a oportunidade de produzir com o maior número de cidadãos e cidadãs possível. Quero também deixar um recado a todos os pais e estudantes que estão a ler esta entrevista. Invistam na educação de seus filhos. Cobrem as autoridades responsáveis pela educação de nosso país, estado e município. Participem da vida estudantil de seus filhos. Só assim, creio que poderemos ter um Brasil mais justo, mais crítico, com menos corrupção, no futuro. Desejo a todos os sul-mato-grossenses um bom feriadão de aniversário de criação do estado. Parabéns Mato Grosso do Sul! 

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