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SEMANA DA MULHER

Do lixo de Aquidauana para o mundo: uma mulher marcada por milagres

Quem diria que a menina de família desestruturada

5 Mar 2015 - 07h02Por Campo Grande News

Quem diria que a menina de família desestruturada, que procurava metais no lixão de Aquidauana para comprar doces, largou a escola, foi estuprada e esteve à beira da prostituição, driblou o improvável e, com uma vida marcada por milagres, tornou-se juíza federal do Trabalho do Rio de Janeiro. Essa é a história de Tânia Tereza Medeiros Carvalho, hoje aposentada do serviço público, que tem se dedicado a mudar o destino de outras pessoas por meio do testemunho, que contará nesta quarta-feira (4), em Campo Grande, em um evento alusivo ao Dia da Mulher.

Em entrevista exclusiva ao Campo Grande News, a mulher conta que a história começa bem antes do nascimento. Os pais dela nasceram em famílias abastadas. Antes de se conhecerem, coincidentemente, se apaixonaram por pessoas de condições financeiras inferiores e tiveram os relacionamentos rejeitados pelos parentes. Outra triste coincidência: os noivos dos dois não aguentaram a pressão e cometeram suicídio, quase na mesma época.

Por um acaso, eles acabaram se conhecendo após as tragédias que os haviam abalado. “Eles fizeram um pacto de casar, deixar suas famílias e começar uma vida nova”, conta Tânia.

A situação financeira não era ruim, a família se enquadrava em um padrão de classe média. O pai trabalhava no Banco do Brasil, mas às vezes passava meses fora de casa. “Era um homem perdido. Tinha um padrão moral baixíssimo, vivia em prostíbulos, bebidas, abandonava a casa, ia embora, arrumava outras mulheres, nos deixava passando alguns apertos”, relata.

Enquanto isso, a mãe dela se afundava no vício em medicamentos. “Os remédios faziam com que ela dormisse. Ela passava o tempo inteiro dormindo. Era uma forma de fugir da realidade”, explica Tânia. Ela e o irmão por vezes ficavam sozinhos a ponto de sofrerem algum acidente doméstico.

A distância do “chefe da família” atrasava as contas e os itens essenciais eram comprados na “pindura”. “Tinha conta no armazém, na padaria, no açougue, na farmácia. “Todo mundo na cidade tinha certa compreensão do que acontecia na minha casa”, relata.

 
Tânia se dedica a mudar a vida de outras pessoas e já ministrou palestras em outros paísesTânia se dedica a mudar a vida de outras pessoas e já ministrou palestras em outros países

Foi então que o farmacêutico que vendia as drogas para a mãe de Tânia a violentou sexualmente. “Era alguém que conhecia a miséria humana em que a família vivia. Aproveitou-se de um tempo que meu pai passava fora de casa”, lembra.

“Uma criança abusada muda o comportamento, se torna rebelde, torna-se uma criança difícil. Eu já tinha muitas dificuldades na escola em decorrência da família disfuncional, que não tem pai e mãe para ajudar nas tarefas. Crianças que não tem pai e mãe que se interessem por elas têm uma deficiência na escola e quando sofre o abuso, complica. Eu comecei a ter muitos problemas até que eu parei de estudar, com 12 anos”, conta a juíza aposentada.

Tempos depois, já em outra cidade, Tânia flagrou o pai com uma prostituta na cama dela enquanto a mãe estava dopada no quarto ao lado. Aquele foi o ápice de toda a revolta e chegou a cogitar a prostituição. “No dia 28 de dezembro eu saí de casa pensando em me entregar para quantos homens me quisessem naquele dia”, relata.

O primeiro homem para o qual ela se ofereceu também era funcionário do Banco do Brasil, mas a semelhança com o pai dela parava por aí. “Era um homem de bem, que eu não acreditava que existisse. Um homem de Deus, que tinha padrão moral e espiritual, que sabia de tudo o que acontecia na minha casa. Ele me falou com respeito. Falou que aquela ideia louca ia destruir a minha vida. Ele teve uma grande misericórdia de mim”, diz.

Essa pessoa colocou Tânia novamente nos eixos. “É como se eu visse uma luz no fim do túnel. Era a única pessoa boa que tinha aparecido ao meu redor. Não demorou três meses eu tinha me tornado outra pessoa. Já estava vivendo um novo tempo e nos casamos. Ele é meu marido e vamos fazer 50 anos de casado em julho. E ele começou a ser a boca de Deus para mim”, relata.

Foi o esposo que a incentivou a terminar os estudos e prestar o primeiro concurso público para o Banco Central, no qual foi aprovada. A história não acaba aí. Algum tempo depois, ela encontrou uma juíza federal em um encontro de servidores do órgão em que atuava. “Fiquei muito impactada com aquela mulher e o primeiro concurso para juiz federal que teve na região ela mandou o edital, me desafiou a fazer. Eu achei tão impossível, tão distante. Eu era avó. Estimulada pelo meu marido eu fiz e passei”, relata.

“Eu sou a prova do improvável. Qual a probabilidade que você encontra em uma menina jogada fora, que ia para o lixão de Aquidauana juntar metais para vender no ferro velho da cidade para comprar um doce, um suspiro de padaria, um gibi, porque o dinheiro em casa era para droga e prostituição. Qual a probabilidade de uma menina dessa chegar a ser juíza federal? Nenhuma”, completa.

Mais do que incentivar Tânia a subir na vida, o esposo teve outro papel fundamental “Me ensinou a perdoar, amar meus pais e olhar com eles com misericórdia, com a mesma misericórdia que ele olhou para mim quando me encontrou. Eu os perdoei e eles também mudaram de vida”, diz.

“Sou uma mulher curada, cheia de alegria. É uma história de milagre e o instrumento desse milagre foi meu marido”. De que adianta um bom exemplo se o mundo não o conhecesse? Hoje Tânia é pastora e já tem cinco livros publicados, um deles contando a própria história. Já ministrou palestras nos Estados Unidos, Suíça, Itália e embarcará para a Holanda em abril.

“Eu vejo quando é importante você se desnudar. É muito fácil você ver uma juíza em cima do salto alto e imaginar que ela nasceu em berço esplêndido, mas saber que ela passou pelo lixo de Aquidauana. Aí a moça que está no lixo de Campo Grande pensa: eu também posso”, completa.

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