Em tempos de muros, crianças mortas a beira mar e malas queimadas é sempre bom sabermos de que lado estamos.
A globalização de tudo pode até não ter sido uma tentativa de acabar com as fronteiras, ainda assim criou muitas pontes, portas e arcos que no mínimo nos aproximaram de alguma forma. O conhecimento do outro desperta em nós empatia ou antipatia. O mundo globalizado gerou um certo pluralismo cultural, religioso, econômico. Estamos mais pertos e por vezes essa aproximação nos distancia.
Pessoalmente me encanta muito mais a queda do muro de Berlim do que os alicerces do muro de Trump. Mas eu não sou o mundo. E desde que o mundo é mundo as fronteiras insistem em nos separar. Todos os tipos de fronteiras, geográficas ou ideológicas, mas o pior concreto que já confeccionamos é o da intolerância sempre mesclado com o egoísmo.
Precisamos olhar pra nossa história.
Precisamos nos lembrar de onde viemos tanto no mapa quanto na alma.
Cristãos que constroem murros me parecem mais com Jerico do que com os Hebreus, aliás Hebreus do hebraico estrangeiros, peregrinos em busca de uma terra prometida. Foram anos de peregrinação até que Canaã pudesse ser Israel. Anos de lutas, de uma sustentação quase mendigada dia a dia, maná que o diga. Lutas. Invasões. Rejeições. De onde vem a alma desses cristãos que constroem muros ou cantam o hino nacional pra expulsar gente como a gente? Eu sei o tema é bem mais complexo. Roraima não pode ser a casa de todos e eu não os culpo.
Ainda assim gosto de lembrar de onde vim. Na sala da casa da minha mãe tem um baú. Um baú de madeira vermelha, pesado, cabe eu dentro. Veio da Rússia, de lá fugiram meus descendentes maternos que já haviam sido tirados da Alemanha. Atravessaram os mares, tudo que tinham cabia naquele baú, vinham em busca de uma terra prometida que hoje é o Brasil. O Brasil está cheio deles. O que são os brasileiros senão gente que um dia fugiu e viu nessas terras a esperança?
Tudo se define na ideia que temos de mundo. Se somos todos s mundo de alguma forma portas precisam se abrir. Mas se somos mundos isolados muros precisam ser construídos.
Luciano Gazola, Teólogo, comerciante e chefe de cozinha.
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