Um país em ebulição, com bloqueios nas estradas e protestos por todos os cantos. Agora imagine ser um estrangeiro, precisando voltar ao seu país de origem e enfrentar mais de 600 quilômetros para chegar à fronteira. Isso foi o que viveu Danilo Roberto Assis Arguelho, de 31 anos, estudante de medicina em Santa Cruz de La Sierra, cidade mais industrializada da Bolívia.
Danilo cursa o segundo semestre de medicina e teria uma prova para tentar a transferência em uma universidade, no Brasil, no último dia 17. Por isso, mesmo com a Bolívia vivendo uma enorme crise política, após o anúncio da reeleição de Evo Morales e a fronteira do país com o Brasil, via Mato Grosso do Sul, fechada, ele e mais três amigas decidiram tentar seguir viagem.
Danilo e amigas posam para foto no caminho até a fronteira da Bolívia com o Brasil — Foto: Danilo Arguelho/Arquivo Pessoal
Os bloqueios na cidade, no entanto, começaram a atrapalhar a viagem. Os manifestantes, que pediam novas eleições no país, tomaram o município de Santa Cruz de La Sierra, base da oposição a Evo Morales. "De Santa Cruz até Pailon, cidade vizinha, tivemos que pegar seis veículos diferentes. Depois, a cada mais ou menos 25 quilômetros tinha mais algum bloqueio, em que só era possível passar a pé. Por isso, tínhamos que trocar de veículo do outro lado", explica Danilo.
Danilo e amigas pegam mototáxi para passar por ponto de bloqueio na Bolívia — Foto: Danilo Arguelho/Arquivo Pessoal
O caminho até a fronteira continuou com percalços. Segundo Danilo, os estudantes passaram por incontáveis bloqueios, caminhando por trechos de mais de 500 metros na lama, barro e chuva. Ainda assim, as cidades bolivianas foram ficando para trás. Em Águas Calientes, os amigos pararam para almoçar em uma pensão na beira da estrada. Depois, passaram por Limonzito e Roboré, até pegarem outro carro para chegarem em Porto Quijarro, cidade que faz divisa com Corumbá, em Mato Grosso do Sul. No total, eles pegaram 5 mototáxis e 20 carros, entre caronas e vans.
Danilo e amigas almoçam no município de Águas Calientes, na Bolívia, antes de chegarem na fronteira com o Brasil — Foto: Danilo Arguelho/Arquivo Pessoal
Apesar de todas as dificuldades, os amigos encararam a experiência com tranquilidade. "Obviamente tivemos momentos difíceis, mas vendo hoje, tudo o que passamos foi uma aventura. E uma aventura muito legal", afirma o estudante.
Registro do estudante de medicina de um dos pontos turísticos da Bolívia na aventura pelo país vizinho — Foto: Danilo Arguelho/Arquivo Pessoal
Danilo deve voltar apenas em fevereiro para o país, quando retornam as aulas de medicina na faculdade. Porém, já faz planos de voltar em alguns pontos turísticos que conheceu na aventura pela Bolívia. "No caminho, vimos montanhas, conhecemos histórias das cidades, como em Águas Calientes, com águas termais naturais. Vimos também em Limonzito um morro com uma igreja, que também queremos voltar a visitar. Encontramos no caminho vaca, bode, cabras. Então tudo foi muito interessante" finaliza.
Crise na Bolívia continua
Dois dias após a renúncia de Evo, Jeanine Áñez, senadora e segunda vice-presidente do Senado, se declarou presidente interina da Bolívia. A ação desagradou os apoiadores de Evo Morales, que também foram às ruas e continuaram bloqueios por todo o país. A situação já afeta o abastecimento dos municípios e a Bolívia enfrenta escassez de alimentos e combustível.
Na tarde desta quarta-feira (20), Áñez afirmou que convocará novas eleições "nas próximas horas". A crise na Bolívia expôs divisões étnicas, raciais e geográficas que muitos pensaram estar superada durante os 14 anos do governo de Evo, que introduziu uma constituição considerada mais inclusiva. Analistas dizem que o movimento para derrubar o ex-presidente partiu da revolta da classe-média urbana contra os esforços do político para permanecer no poder.
Participe do nosso canal no WhatsApp
Clique no botão abaixo para se juntar ao nosso novo canal do WhatsApp e ficar por dentro das últimas notícias.
Participar