Menu
quarta, 24 de abril de 2024
Busca
Busca
Brasil

Leia a crônica “Um Texto Inventado”, por Gilberto Mendes

28 Mai 2010 - 18h20Por Gilberto Mendes

UM TEXTO INVENTADO

 

 

Existem momentos, doces momentos, que me deixo levar numa viagem tão maravilhosa que ela, por sí só, já enche o meu peito de alegria. Gosto de partir nestas caminhadas sem rumo, sem destino, viagens tão longas e profundas e, ao mesmo tempo, não precisam sequer de um passo, mas, que deixam em mim marcas tão indissolúveis que irão acompanhar-me para todo o sempre.

 

 

São mergulhos introspectivos buscando me conhecer, querendo me reconhecer, esquadrinhando as muitas lições e percalços que a vida me deu (e trouxe), remexendo a sabedoria que ficou encalhada nos sedimentos do leito de minhas experiências.

 

 

E tudo o que tenho desejado nos últimos tempos, não são mais bocados de inteligência, ou agregar-me cultura farta e diversificada, ou, ainda, cultuar a esperteza dos lobos – quero a sabedoria dos mestres, dos homens que sabem viver com o pouco que a vida lhes deu e que conseguem ser felizes tirando o máximo deste mínimo.

 

 

Dia desses, numa dessas viagens, visitei minha infância e revi o garoto feliz que fui. Vi-me chutando bola de meia, brincando de pega no meio da poeira, pezinho nu no chão de areia, a boca suja de fruta colhida no pé, calção pequeno e já gasto, o sorriso gravado com o fogo da felicidade na face da criança.

 

 

Percebi que nesta época tinha muito menos do que tenho hoje, e era muito mais feliz do que sou atualmente. Isso me dá uma lição de vida incrivel, pois testemunha com fé que a felicidade não está mesmo nas coisas que se conquista e que se acumula por este caminho cravejado de pedras preciosas falsas; a felicidade está dentro da gente, naquilo que somos, que pensamos, que queremos, que desejamos, que cultuamos para nossa vida, que foi fabricado junto com o mesmo barro que nos construiu.

 

 

Digo adeus à idolatria moderna que é profetizada por uma sociedade que está contaminada de valores mundanos e medíocres.

 

 

Resgato a fantástica capacidade de ser feliz com a simplicidade, com o olhar à frente e ter a convicção de que tudo o que quero no dia seguinte, é estar ao lado de quem amo para inventarmos qualquer nova brincadeira – tudo o que quero é trazer de volta a capacidade de brincar... brincar... sem eletrônica ou maiores sofisticações!

 

 

Este texto, acreditem, não nasceu para ser filosófico. Não quis que ele ficasse acenando lições de felicidade e verdades que são minhas – cada um tem a sua verdade e meu espelho colocado na frente do rosto de todos os outros, provavelmente, não terá a capacidade de refletir sua face em um espelho que é somente meu. Minha verdade é meu espelho.

 

 

O que queria quando comecei era contar uma velha história infantil de quando vi a primeira dentadura, e do terror que senti quando ela foi retirada da boca do seu dono deixando-a macilenta, murcha, completamente sem vida, os dentes brancos sorridentes arreganhados para mim num riso bizarro e afogados dentro de um grande copo d’água. Puro horror senti... Nunca soube até então que os dentes poderiam ser artificiais, encaixáveis, e demorei muito para entender o que se passava...

 

 

A verdade é que me deixei levar por outros caminhos que não programei para este texto, a vontade original era apenas encantá-los com esta história da dentadura...

 

 

Provavelmente deixei-me dominar pelo Gilberto curumim que fui um dia e, voces devem se lembrar das gurias e guris que também já o foram, e, portanto, sabem bem, crianças nunca programam nada, elas se ajuntam e inventam.

 

 

Exte é meu texto inventado, se encanta ou não encanta são outros méritos que escapam ao meu controle ainda que ele possuir esta capacidade flerta intimamente com meu desejo.

 

 

Não vou cair de joelhos rogando para que o texto que escrevi tenha a capacidade de fazer-lhes suspirar poesia por seus olhos doces e sensíveis. Louvo, isto sim, para que ele retire de dentro de voces as crianças que foram um dia, nem que seja por um momento dentro do tempo de adulto – se conseguir isto, duas coisas acontecerão, com certeza: a primeira, voces entenderão o que sinto agora ao lembrar-me de minha infância e do guri que fui; e, segundo, perdoarão-me por ter me desviado de meus propósitos sinceros originais e esquecido de contar da história da dentadura – as crianças, sempre perdoam...

 

 

 

Visitem o blog do autor: www.nelmezzodelcammim.blogspot.com

 

Participe do nosso canal no WhatsApp

Clique no botão abaixo para se juntar ao nosso novo canal do WhatsApp e ficar por dentro das últimas notícias.

Participar

Leia Também

SEM ATENDIMENTO
Grávida que morreu sem atendimento 'vomitou sangue pelo nariz e boca'
VICENTINA - PROGRESSO
Prefeito Marquinhos do Dedé lidera avanço histórico rumo ao saneamento completo em Vicentina
Fátima Fest 2024
Agora é oficial Luan Santana divulga em sua agenda a data do show em Fátima do Sul no Fátima Fest
Ajude
Mãe luta por tratamento de filha especial e por sobrevivência dos outros filhos em Campo Grande
Saúde
Repórter Dhione Tito faz cirurgia no joelho e se diz confiante para correr atrás do boi de rodeio

Mais Lidas

FOTO: BLOG FAVO DE MELFÁTIMA DO SUL DE LUTO
Fátima do Sul com tristeza se despede do querido amigo Mirão, família informa sobre velório
Entretenimento
Encontro Nacional de Violeiros do MS acontece neste fim de semana em Vicentina, veja a programação
Sidney Assis, de CoximTRAGÉDIA NAS ESTRADAS
TRAGÉDIA: Acidente mata mãe e filho
FOTO: MÍDIA MAXFEMINICÍDIO EM MS
'Matei porque era prostituta': Homem deu 30 facadas em mulher e passou 3 dias com corpo em MS
Gabriel foi encontrado por populares que fazem caminhada no local; Foto: Sidnei Bronka/Ligado Na NotíciaDOURADOS - POLÍCIA
Homem é encontrado morto com tiro na cabeça em Dourados