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Diário do Campo conta a história do laço comprido em MS

4 Nov 2004 - 08h19
A edição de hoje do Diário do Campo conta a história do “Laço Comprido” em Mato Grosso do Sul, uma modalidade campeira que se tornou um dos maiores esportes do Estado. Para isto, “laçamos” as informações do advogado e pecuarista José Atanásio Lemos Neto, natural de Lages (SC), o idealizador da Federação de Clubes de Laço de Mato Grosso do Sul, criada em 2 de abril de 1985. Na capa, a foto do saudoso João Stefanes, um dos maiores laçadores da região da Grande Dourados e professor de muitos jovens,hoje participantes dos torneios de laço.
Conheça um pouco da alma dos campeiros...
 
 
Por Cláudio Xavier.

O esporte do laço comprido, uma modalidade que nasceu meio às lides do homem do campo, dos arreios e do manejo com o gado vacum, atualmente “arrincona” centenas de aficcionados das mais diferentes idades, do ‘neto ao avô’, e de ambos os sexos: o peão e a amazona. Só falando em nosso Estado, são inúmeros os clubes de laço distribuídos e divididos em grupos. Todos eles, seguidores de um estatuto e de um regimento interno, sob às rédeas da Federação de Clubes de Laço de Mato Grosso do Sul, em 2 de abril de 1985, na época, sob a coordenação do advogado e pecuarista José Atanásio Lemos Neto, natural de Lages (SC), estabelecido em Jardim.
Para nos ajudar neste relato sobre o laço comprido, buscamos informações precisas deste pecuarista, amante do esporte campeiro. Ele conta que a colonização do antigo Mato Grosso teve por base o triângulo Homem-Boi e Cavalo. Em 1767 Don Alvar Nunes Cabeça de Vaca, então governador do Paraguai, adquiriu em São Vicente, na Província de São Paulo, uma manada de mil cabeças de gado vacum, alguns touros e umas dezenas de animais cavalares e mandou transportá-los pelo interior do Brasil, até Assunção, cruzando os sertões do Mato Grosso. Na travessia dos descampados dessa terra de ninguém, extraviaram-se muitos animais vacuns e cavalares. Foram as primeiras sementes do gado “baguá” (selvagem e sem dono) e dos cavalos chimarrões (sem dono), aqui encontrados muitas décadas depois.
Em 1842, quando os primeiros mineiros chegaram ao Mato Grosso, encontraram tanto gado na região, hoje conhecida como Rio Brilhante, que a denominaram de “Campo das Vacarias”. Aos poucos, inclusive resultado da Guerra do Paraguai, alguns soldados permaneceram e outros retornaram mais tarde e, em especial, o povo mineiro deram início a fundação de fazendas de criação de gado. Foram homens campeiros que, praticamente, iniciaram a colonização do Estado. E como diz Atanásio Neto, “são os homens campeiros os responsáveis pelos clubes de laço da Federação de Clubes de Laço do MS”.
Oficialmente, quem introduziu os primeiros animais cavalares e vacuns no velho Estado do Mato Grosso, foi Dom Luiz Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, 4º governador de Mato Grosso, no final do século XVIII. Graças às magníficas pastagens naturais, o gado vacum e cavalar desenvolveu-se muito bem e, em poucas décadas, já existiam manadas baguais em todos os recantos, principalmente no Pantanal. A origem do famoso cavalo pantaneiro vem desse tempo.
Como não havia cercas para contenção dos animais, aos poucos iam se tornando bravos e selvagens (baguá) na linguagem matogrossense. A única forma de pegá-los era utilizando o laço. Dessa forma, o homem campeiro, até para sobreviver, foi se tornando um exímio laçador. Com o tempo, os homens campeiros de Mato Grosso fizeram do laço uma ‘’arte” que foi sendo transmitida de pai para filho, de geração em geração. “Não sabemos precisar com exatidão, o inicio do laço no Estado. Mas, a tradição oral nos conta que foi na década de 70, que o gaúcho José Albery Marçola, que morou em Bela Vista, incentivou os fazendeiros da região, a fazerem aqui, o que já faziam no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, ou seja, fazer torneios de laço”, recorda José Atanásio. Assim, segundo os antigos, nasceu o Clube do Laço “Bela Vista”, em Bela Vista. O Estado ainda não tinha sido dividido.
Aos poucos, foram surgindo novos clubes de laço e, conseqüentemente, os torneios eram intensificados. O laço era praticado sem leis e sem regras específicas. Ninguém sabia bem como fazer. Em cada clube existia uma regra. “Em cada torneio, o clube promotor tinha uma ‘’lei” própria”, lembra Atanásio. Importante ressaltar que José Atanásio Neto também é o fundador do Clube de Laço “Guia Lopes”, em homenagem a José Francisco Lopes, o famoso ‘’Guia Lopes”, que guiou as tropas brasileiras na célebre Retirada da Laguna, por ocasião da Guerra do Paraguai.
Os clubes incrementaram e divulgaram o laço como esporte. Fomentou-se a criação de bons cavalos, incentivou-se a arte da domação e do adestramento, despertando, assim, o antigo amor pelas lidas campeiras, preservando usos e costumes de nossos antepassados. Promovendo a valorização do homem do campo, despertando nele a consciência de liberdade ilimitada e preservando o patrimônio cultural, representado pelos valores fundamentais de nossa formação histórica. “São laçadores, das mais diversas camadas sociais, desde o Patrão até o peão, revivendo usos e costumes da terra, criando um estilo e uma filosofia de vida, fazendo o homem voltar às suas origens e orgulhar-se de ser campeiro”, comenta José Atanásio Neto.
 
O que é o laço comprido

O termo laço comprido nasceu para diferenciar do laço curto do cowboy americano, esporte também praticado no Brasil. O comprido é o laço, propriamente dito, pois o que os americanos usam e também chamam de laço é, materialmente, uma corda de nylon. O laço campeiro varia em comprimento, normalmente de 11 a 14 “braças” (20 a 25 metros), formado de quatro partes: argola, afogador (ilhapa), seio ou corpo do laço e a presilha. Também variam as tranças, podendo ser quatro, seis ou oito tentos (tiras de couro compridas, lonqueadas e desquinadas).
Os torneios possuem regras estabelecidas, baseadas, o mais próximo possível, no que realmente acontecia das fazendas. Entre elas, a mais importante, ou seja, a rês deve ser laçada somente pelos “chifres” (guampas), em uma distância máxima de cem metros. A prova ocorre em uma pista apropriada, com brete de largada e o ‘tira-laço’ (brete final), onde os juízes confirmam ou não a laçada. Para isto, o juiz de pista carrega duas bandeiras consigo: a de cor branca é armada negativa e a vermelha levantada, significa laçada positiva.
Em um torneio são disputadas cerca de 40 taças, nas categorias de: peão mirim, bandeira, adulto, amazonas, patrão, entre outros. Cada equipe é formada por cinco laçadores, com o ‘capitão’ iniciando as laçadas e o ‘fecha rosca’ (último laçador) encerrando a equipe. Entre as equipes, são destaques nos encontros a disputa de Campeão Individual e a final das Taças de Bronze, Prata e Ouro. Outro destaque dos torneios são os “Bailes Carapés”. “Carapé”, vem da língua guarany e quer dizer “pequeno”, que acontece durante o dia.
Cada clube de laço tem a sua pista própria, no município de origem. Porém, nos adianta Atanásio Neto, “o maior sonho dos laçadores é a criação do Parque do Laçador, em Campo Grande, nos moldes do Rodeio de Barretos (SP), onde aconteceria a final da Copa do Laço, com a participação de todos os competidores do Estado e de convidados de outros Estados”.
Atanásio Lemos, um dos maiores admiradores do esporte do laço comprido, traz consigo inúmeros didtos tradicionais sobre esta modalidade campeira. Um homem voltado aos costumes sulinos, que gosta de trajar a bombacha e a bota de cano alto fala sempre para todos: “o laço une!”

 

 

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