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Criobiologia congela a vida e busca imortalidade

5 Ago 2004 - 16h27
O homem ainda não manipula o tempo, mas retarda seus efeitos utilizando um recurso totalmente natural: o gelo. Com as propriedades do congelamento, o ser humano encontrou um aliado para preservar o que o tempo degenera. Depois de dominar a arte de conservar alimentos pelo frio, o homem procura aprimorar técnicas que permitem congelar a vida e protegê-la do envelhecimento e até da morte. É a criobiologia.

Essa ciência que estuda o efeito do resfriamento em seres vivos surgiu nos anos 50, com o congelamento de esperma de touros para inseminação artificial. A idéia originou inúmeras práticas que vão desde o congelamento de esperma, embriões e sangue, e até mesmo de corpos inteiros. Hoje, é incontável a quantidade de embriões congelados que se transformam em animais e seres humanos.

Quando nasceu na Austrália, em 1984, a primeira criança cujo embrião foi mantido congelado o conceito da família tradicional sofreu uma reviravolta. Hoje, enquanto avós dão à luz filhos das filhas, viúvas geram crianças de maridos falecidos. E com o congelamento de ovários, desenvolvido recentemente, mulheres com câncer poderão ter seus filhos depois que a doença for erradicada. Da mesma forma, através do auto-transplante, é possível receber sua própria medula ou sangue, congelados previamente.

Após a morte

Entretanto, o homem não se limita a estas vitórias e parte para desafios maiores, como a hibernação humana. Em 1967, James Bedford, um norte-americano de 74 anos, foi o primeiro a ter o corpo congelado, depois de falecer de um câncer de pulmão. Ted Williams, um jogador de beisebol, teve a cabeça congelada, em julho de 2002, a pedido de seu filho.

Desde então, adeptos do mundo todo se dispõem a pagar US$ 120 mil para manter o corpo conservado após a morte, na esperança de que a ciência encontre um meio de trazê-los de volta à vida. Atualmente, há mais de 100 corpos congelados e cerca de 600 clientes filiados em duas das principais clínicas especializadas dos Estados Unidos.

Corpos conservados

Curiosamente, antes mesmo de conservar alimentos, o homem tentava conservar seus mortos. A esperança de ressurreição desenvolveu, entre os egípcios, técnicas de mumificação tão boas que muitos corpos são encontrados ainda hoje, no calor do deserto africano, onde parece impossível a preservação de matéria orgânica por tanto tempo. As técnicas egípcias, embora comprovadamente eficazes na preservação da forma, nunca foram pensadas para preservação da vida, pois a desidratação é incompatível com a forma de vida que conhecemos.

Ao norte do planeta, cerca de 400 anos antes de Cristo, povos nativos da ilhas Aleutianas, no Alaska, criaram outra técnica para conservação de corpos. Essa era mais atraente aos anseios humanos por preservar a água, elemento sem a qual não sobrevivemos. Em 1972, foi encontrado na região um corpo de mulher intacto, com sua pele e órgãos conservados graças à antiga prática de mumificação no gelo.

Do freezer ao futuro

A ficção científica também explora o assunto com amplitude na imaginação de roteiristas e escritores. Buck Rogers, herói da televisão e dos quadrinhos, permaneceu congelado por 500 anos e voltou à vida no século 25.

Da mesma forma, o personagem Khan, vilão da popular série Jornada nas Estrelas, passou parte da sua vida dentro de um freezer. Contudo, se o congelamento de seres vivos é aceito na telas do cinema e da televisão, no plano real ele sofre graves impasses morais. A maioria das religiões condena a manipulação da vida sob a alegação de que o homem não está destinado a alcançar a imortalidade.

Bioética e cordão umbilical

Mesmo a ciência terapêutica, com fins unicamente curativos, se depara com freqüentes hostilidades entre os defensores da bioética, principalmente quando o assunto é a obtenção de células-tronco embrionárias. Estas células, base da chamada Medicina Regenerativa, podem ser utilizadas para reparar tecidos danificados e tratar enfermidades incuráveis como câncer, lesões da medula espinhal e muitas outras. Estudos revelaram que essas células podem até substituir dentes humanos com o desenvolvimento da terceira dentição.

Contudo, as dificuldades para a coleta das células dos embriões, levaram especialistas de diversos países a optar pela utilização das células-tronco do sangue do cordão umbilical e da placenta, por não comprometer os princípios da bioética (leia box abaixo). Em todo o mudo, inclusive no Brasil, existem bancos privados dedicados exclusivamente a esta tarefa.

"A coleta do sangue é realizada logo após o nascimento do bebê. Depois, o conteúdo é encaminhado para o laboratório, onde diversos exames avaliam a qualidade das células que, através de softwares sofisticados são submetidas ao congelamento", explica Dr. Nelson Tatsui, médico hemoterapeuta e diretor da Criogênesis, especializada no congelamento de células tronco há dois anos, pioneira no país.

Tratamento e cura

O aproveitamento de células tronco é mais uma demonstração do potencial da criobiologia. Atualmente mais de 45 doenças podem ser tratadas com a utilização dessas células, e a importância do armazenamento é justificada pela dificuldade de se encontrar doadores para transplante. Além disso, não há riscos de rejeição, uma vez que as células são provenientes do próprio paciente. "As chances de encontrar material compatível são mínimas, principalmente num país como Brasil onde a miscigenação racial é grande", explica o Dr. Tatsui.

Entre o que é possível e comprovado como a utilização do cordão umbilical para curar doenças, e o que ainda é especulação, como o congelamento de corpos e cabeças, a criobiologia tornou-se, nas últimas décadas um investimento que amplia as expectativas de prolongamento da vida. Mas a genialidade humana é ousada, e num futuro que parece muito próximo, talvez o homem finalmente encontre a tão sonhada fonte da juventude ou, quem sabe, o segredo da imortalidade.

BOX – Células do cordão umbilical salvam vidas

(BR Press) - O sangue contido no cordão umbilical e na placenta é rico em um tipo especial de célula conhecida como célula-tronco. Estas células têm o potencial de formar novos tecidos como, por exemplo, os elementos celulares do sangue (hemácias, leucócitos etc).

Desde 1988 estas células vêm sendo utilizadas como substitutas do transplante de medula óssea, para tratamento de doenças como leucemia, linfoma, mieloma e algumas doenças imunológicas. Segundo o Dr. Nelson Hidekazu Tatsui, especialista da clínica Criogênesis, primeiro banco privado exclusivo de sangue de cordão, "graças às várias pesquisas em andamento, podemos esperar que, num futuro bem próximo, essas células sejam utilizadas no tratamento de doenças cardíacas, neurológicas, endócrinas e outras".

Normalmente, o cordão umbilical e a placenta são descartados após o parto. Entretanto, hoje é possível coletar e armazenar essas células – e o nascimento do bebê é o único momento possível para a realizar a coleta. O procedimento é totalmente seguro, pois o sangue é retirado do cordão após a separação do bebê (ligadura do cordão umbilical), e o parto pode ocorrer por via vaginal ou Cesárea.

"Os pais que optam pelo congelamento do sangue de cordão de seu filho, estão na verdade, fazendo um backup celular do filho, que poderá no futuro garantir o tratamento de várias doenças" afirma o Dr. Tatsui. A finalidade é garantir ao doador uma reserva celular que poderá ser-lhe útil no futuro, em caso de ocorrência de doença passível de tratamento pela infusão de células-tronco.

Vale lembrar que a chance de compatibilidade entre irmãos é de 1:4 (25%) e entre não aparentados de 1:40.000 (0,000025%, ou seja, muito menos de 0,5%). Esses números demonstram a dificuldade de se encontrar doadores compatíveis, principalmente num país como o Brasil, onde a miscigenação racial é intensa.

Mesmo quando se avalia a possibilidade do auto-transplante, a medula do paciente muitas vezes não é adequada para o uso porque pode estar "contaminada" pela doença que se quer tratar. Além disso, quando sua utilização é possível (casos raros), a coleta das células da medula exige anestesia e processo cirúrgico, o que é inconveniente para o paciente já debilitado pela doença.

A utilização das células-tronco placentárias para transplante, apresenta inúmeras vantagens em relação à utilização de medula óssea, pois são mais jovens, apresentam menor potencial imunogênico (rejeição) e são coletadas de maneira não traumática e indolor.

O armazenamento das células-tronco, além de servir para uso próprio pode, também, beneficiar parentes próximos, principalmente irmãos. Com as células armazenadas há garantia de rapidez no tratamento e não há risco de rejeição após o transplante. Em 1988 foi realizado, com sucesso, o primeiro transplante de medula feito com células do cordão umbilical. Desde então mais de 2.500 procedimentos já foram realizados mundialmente.

 

 

 

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