Médicos do esporte observam um aumento no número de traumas na cabeça em jogos de futebol. Nos últimos anos, os atletas se tornaram mais rápidos e fortes e passaram a colidir mais entre si.
Hoje, o jogador corre 12 km durante uma partida. Na década de 80, corria 9 km. Também se tornaram mais comuns as jogadas aéreas (nas quais os atletas disputam a bola com a cabeça).
Esses fatores, na percepção dos especialistas em medicina do esporte, aumentaram a frequência e a gravidade das cabeçadas entre jogadores, que são a principal causa das lesões.
No último sábado, por exemplo, o lateral John Pantsil, da seleção de Gana, tomou uma cabeçada no jogo contra a Austrália e teve de sair do gramado com forte sangramento no nariz.
Em abril, o goleiro brasileiro Júlio César Jacobi, que atua no time português Benfica, sofreu uma pancada na cabeça durante um jogo e teve uma amnésia temporária: não conseguia se lembrar dos lances da partida.
"A impressão é que deveriam aumentar o campo para ampliar o espaço de jogo. O vigor físico também melhorou demais", comenta o médico do esporte José Sanchez, coordenador médico do São Paulo Futebol Clube.
"No passado, era raro ver traumatismo craniano, hoje se vê toda hora, e não só numa partida, nos treinos também. Para quem está no banco, é um horror", acrescenta.
Com base nessas constatações, pesquisadores do Centro de Traumatologia do Esporte da Unifesp pretendem mapear o impacto dos traumas na cabeça ao longo da vida profissional dos jogadores do São Paulo.
Em 2006, eles fizeram um estudo preliminar com o time profissional -40% dos jogadores disseram, então, já ter sofrido uma batida na cabeça com sintomas.
Agora, pretendem trazer ao Brasil um teste neurológico desenvolvido pela Universidade de Pittsburgh, nos EUA, para acompanhar a recuperação de atletas que sofrem lesões na cabeça.
"Isso não existe no país. O primeiro passo é estudar qual é a lesão e as suas características, para pensar o tratamento", diz a fisiatra Sheila Ingham, pesquisadora do centro da Unifesp e da AACD.
RISCOS
Não há dados brasileiros sobre a incidência desses traumas. Mas estudos internacionais apontam que 10% de todos os jogadores de esporte de contato sofram ao menos uma lesão na cabeça por ano. Em dez anos de profissão, o jogador de futebol tem 50% de chances de sofrer um trauma.
A situação que apresenta mais risco é retornar ao jogo depois de uma cabeçada com sintomas. Alguns desses sintomas são perda de memória, náuseas e vômitos - e o alerta vale também para jogadores amadores.
Nesses casos, o jogador deve ser substituído e fazer exames, é óbvio. Se perder a consciência, hospital no ato.
"Os médicos fizeram reuniões com a CBF para tornar isso um protocolo em todos os times das séries A e B do Campeonato Brasileiro. Mas não é fácil dizer que o jogador tem de sair do jogo, todo mundo quer que ele volte", afirma Sanchez.
Para reduzir riscos, jogadores devem aprender a se defender ao disputar a bola com a cabeça. É indicado proteger-se com os braços e cabecear de olhos abertos, mas a maioria fecha os olhos.
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