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Brasil

Aluno aprende mal, mas aprova professor

19 Jul 2004 - 17h49
Você acha que o respeito e a admiração que um aluno tenha pelo conhecimento e pela didática de seus professores são determinantes no processo de aprendizagem? Não são. Trabalho inédito do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Inep, invulgar pela extensão e profundidade, acaba de provar que o aluno do ensino médio brasileiro adora seus professores tanto quanto vai mal na escola.

A todos os inscritos na prova do Enem 2003 (Exame Nacional do Ensino Médio), um total de 1,8 milhão de alunos, foi pedido que respondessem a um questionário com 188 questões sobre seus professores, escolas, interesses, modos de vida, hábitos de leitura, família. 1,3 milhão responderam. Foi garantido o sigilo. Então, cruzaram-se as respostas fornecidas com o resultado de cada aluno nas provas de conhecimentos gerais e de redação.

Apenas para servir de parâmetro, enquanto 61,22% do alunado acha que os laboratórios da sua escola são "insuficientes a regulares", apenas 8,87% dá essa avaliação ao "conhecimento que seus professores têm das matérias e à maneira de transmiti-lo". Um em cada três alunos considera seus professores "bons a excelentes" nesse quesito.

Nada menos que 90,19% dos alunos acham seus professores respeitosos. Outros predicados apontados pela imensa maioria: "dedicados", "atenciosos", "firmes, porém não-autoritários".
Com professores tão sensacionais, a lógica apontaria para performances também sensacionais dos alunos na prova do Enem. Esqueça a lógica.

A nota média na prova objetiva foi 49,55, numa escala de zero a cem. Em redação, a média ficou em 55,36. Se se pensasse num estudante representando essa média, ele teria "levado pau" em conhecimentos gerais, mesmo avaliando tão bem seus professores.

Para complicar ainda mais, entre todas as 188 perguntas, as que apresentam mais fraca correlação entre as respostas e o resultado na prova do Enem são as relativas à qualidade do professor.

Assim, os alunos que responderam ter professores "insuficientes a regulares" no quesito "conhecimento e a maneira de transmiti-lo" fizeram, na média, 47,71 pontos na prova de conhecimentos gerais do Enem. Quem respondeu "regular a bom" fez menos pontos: 47,48. Quem respondeu "bom a excelente" fez 53,81. Entre a menor pontuação e a maior, uma diferença de 6,33 pontos.

Já quando a pergunta referiu-se a "condições da sala de aula", quem respondeu "insuficiente a regular" fez 46,16 pontos. Quem respondeu "regular a bom" fez 48,5. Quem respondeu "bom a excelente" fez 55,81. Entre a menor pontuação e a maior, uma diferença de 9,65 pontos.
Na questão sobre as "condições dos laboratórios", a diferença atinge 13 pontos. Quando a pergunta refere-se ao "acesso a computadores e outros recursos de informática" o desnível das notas monta a 12,26.

Ao mestre com carinho

"Os alunos avaliaram seus professores pelo viés do afeto", explica a psicóloga Rosely Sayão, especialista em educação e colunista da Folha. "Eles gostam dos professores e estão aprisionados por esse afeto", interpreta.

"Isso impede-os de avaliar com rigor seus professores e, em contrapartida, leva-os a se auto-responsabilizar pelo fracasso escolar, o que é um massacre na auto-estima desses meninos e meninas", diz Sayão.
O professor Claudio Fonseca, presidente do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), acha que a avaliação positiva que os alunos fazem de seus professores decorre do que ele chama de "pedagogia da afetividade", da qual discorda.

"O professor mais maleável com a disciplina, mais simpático, mas que não necessariamente cumpre seu papel enquanto educador, acaba envolvendo o aluno numa rede de afeto que nada tem a ver com a eficácia no ensino."

Outros indicadores

A pesquisa do Inep foi pródiga em dados sobre os fatores que influenciam o sucesso escolar. Ao perguntar sobre as áreas de interesse dos alunos e relacionar essa informação ao desempenho, ficou claro que, quanto maior o espectro de interesses do estudante, mais bem-sucedido ele é.

Na política, por exemplo, alunos que se interessam "muito" pela "política de sua cidade, o prefeito, os vereadores" fizeram em média 48,85 pontos na prova objetiva. Os que manifestaram "muito interesse" pela "política nacional, papel dos deputados e senadores, presidente da República" fizeram 54,34 pontos.

O escore saltou para 59,48 pontos para os que disseram se interessar pela "política de outros países".

O interesse por esportes afeta pouco a performance, mas quando o assunto é "artes, teatro e cinema", os alunos com muito interesse por esses temas culturais performam 8,89 pontos a mais do que quem não tem interesse.

Fazer cursinho, praticar atividades artísticas e esportivas em geral e freqüentar escola de idiomas também aparecem na pesquisa como elementos que influenciam positivamente o desempenho.

Surpreende que, dentre todas as variáveis, aquelas relativas à qualidade do professor sejam as mais difíceis de ser avaliadas pelos alunos. O educador que dá nome ao Inep é Anísio Teixeira (1900-1971), um dos mais respeitados pensadores da escola brasileira.

Teixeira já antevia, na década de 60, que o desenvolvimento tecnológico e a inclusão de milhões de sem-escola no sistema educacional colocariam desafios imensos à frente do professorado.

Sobre o perfil do novo mestre, dizia o educador: "Ele parecerá com uma mistura de certos jornalistas de revistas e páginas científicas, um pouco de autores de enciclopédias e livros de referência. Ao mesmo tempo, deverá ser mais do que tudo isso". Parece coisa de ficção científica e, no entanto, é urgentíssimo.
 
Folha Online

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